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terça-feira, 9 de julho de 2013

Capítulo 29: ARES, O SANGUINÁRIO DEUS DA GUERRA

ARES(Άρης). Por Genzoman.

Depois de Zeus(Ζεύς) ter vencido os Titãs, com a ajuda de seus irmãos, decidiu ele unir-se às esposas e filhas de seus inimigos vencidos, como Méthis, Thêmis, Eurínome e Mnemosine. No entanto, há muito apaixonara-se por sua irmã Hera(Ἥρα). E houve o dia em que realizou com ela a festa do himeneu.



De sua união com a deusa, teve um filha uma deusa adorada, Ilitia(Εἰλείθυια), deusa que haveria de presidir os nascimentos, mas sem possibilidades de sucedê-lo. Então, Zeus teve de Méthis uma filha guerreira e muito inteligente, Athena(Ἀθάνα), e amou-a como sua predileta. Isso causou a ira de Hera, devido à intensa infidelidade do marido e irmão. Para sobressair-se às demais deusas, precisava gerar um filho seu que pudesse representá-lo ou sucedê-lo, conforme os desígnios das Moiras, o Destino.

Segundo a tradição, não houve detalhe maravilhoso ou extravagante a respeito da concepção do novo deus, senão que Zeus e Hera foram brindados com a chegada de um filho homem ao qual deram o nome de Ares(Ἄρης).

Já possuíam Ilítia, a deusa dos partos difíceis, que auxiliara na vinda de Apolo, e Hebe(Ἥβη), nascida recentemente, que personificava a juventude. No Olimpo, Hebe dançava com as Musas ao som da lira de Apolo e servia o néctar aos deuses.

Ares nasceu nos espaços celestes e logo revelou-se corajoso, mas brutal. Ele cresceu com um belo porte marcial, e recebeu das mãos dos divinos artífices uma soberba e reluzente armadura de bronze e um elmo de ouro com penacho cor de púrpura.

Naquela época, os homens entregavam-se a combates terrivelmente sangrentos e Ares, atraído pelos horrores das batalhas, lançava-se aos combates fazendo ruídos medonhos e emitindo gritos pavorosos, que faziam estremecer o Olimpo.

— Céus! — comentavam os deuses — Ele se deleita com o sangue e com a carnificina.

O fato é que por conta de seu comportamento passou a ser temido e nenhum de seus pares de imortalidade parecia lhe devotar a menor simpatia, nem mesmo seu suposto pai, Zeus que disse:

— Ele é para mim o mais detestável dos deuses que habitam o Olimpo, pois ama unicamente a discórdia, a guerra e os combates. Tem o espírito intratável e teimoso de sua mãe, Hera, que com muito custo consigo reprimir com palavras. Se fosse filho de qualquer outro deus, já há muito teria sido rebaixado entre os filhos do céu! —  e completou —, mas os homens merecem esse flagelo que se abateu sobre eles.

A brutalidade do seu instinto de destruição transformou Ares no mais temível dos deuses, condição essa preenchida para que se tornasse o deus da guerra. Possuía um carro puxado por fogosos corcéis, misturava-se aos combatentes sedentos por sangue. Não defendia qualquer ideal, não tinha amigos nem inimigos, não era partidário da justiça, porque não respeitava as leis, não protegia o bravo nem o covarde, desferindo golpes ao acaso. Somente defendia aqueles que a ele respeitavam e sacrificavam clamando proteção e força.

Seu brado de luta ressoava como um grito de terror que fazia tremer até os mais valentes guerreiros. Sua presença levava à morte sem glória, à devastação sem propósito, à vitória sem merecimento. Constituía um mal necessário, utilizado como último recurso, especialmente nos saques, para evitar a servidão.

Logo haveria de ganhar um séquito, comum a todos os grandes deuses. Para segui-lo no campo de batalha, rodeado de uma matilha de lobos, teria em sua companhia os filhos que Nix gerara, ante a situação caótica que envolvia os mortais: Éris(Ἔρις), a Discórdia, vinha a frente de seu cortejo com cabelos de serpentes que estão sempre a verter incessantemente uma baba infecta, espalhando a intriga e a calúnia. Porque tal é a sua vocação: onde houver dois interesses minimamente contrapostos, é sua obrigação torná-los irreconciliáveis, sendo assim, esvoaçava entre os homens não permitindo que a compreensão encontrasse meios de se fazer ouvir; Limos(λιμός), a Fome, enlouquecia-os e, na luta pelos alimentos que se tornavam escassos, os homens transformavam-se em verdadeiros animais; Ponos(Πόνος), a Fadiga, abatia-se sobre eles; Algea(Ἄλγεα), a Dor, arrancava de seus lábios feridos gemidos contundentes que chegavam ao Olimpo como um coro de lamentos; Lete(Λήθη), o Esquecimento, anuviava suas mentes, fazendo com que esquecessem até mesmo da presença dos deuses que os observavam por entre as nuvens. E Ares, na sua sede de destruição, espalhava a morte por onde passava.

Se adiante vai esse perverso conjunto de arautos, fechando o cortejo estão aquelas que recebem o espantoso apelido de “cadelas de Hades”. São as Queres(Κῆρες), deusas sanguinárias que desciam sobre as vítimas abatidas , sedentas, mergulhavam as garras em suas carnes e saciavam-se ao beberem seu sangue, arrastando-as depois para a morada das sombras, ao serem lançados ao Tártaro. Tais são as agradáveis companhias de que desfruta o belicoso deus.

Athena, a virgem guerreira, procurava detê-lo, mas nada conseguia segurar a mão violenta que se abatia sobre os humanos. Procurou Zeus, cheia de raiva.

— Pai, detenha esse monstro insaciável, ou ele irá transformar o mundo de Gaia em um imenso charco sangrento!

Mas Zeus sacudiu a cabeça.

— Não tenho o poder de aplacar a ira que nasceu junto com meu filho.

— Fale então com Hera! — insistiu Athena— Ela é mãe, saberá como fazer.

Ele sorriu tristemente.

— Ela é mãe, sim, mas apenas porque o gerou. Hera é altiva e dominadora, falta-lhe a ternura necessária para apagar a chama de ódio que brilha nos olhos de Ares.

E Ares se tornava cada vez mais violento e sanguinário. Talvez tenha sido aquela força que atrai os apostos que fez com que Afrodite(Ἀφροδίτ) visse o deus da guerra com outros olhos. Talvez porque sendo o amor também uma batalha, com todos os lances e estratégias de uma guerra, fosse natural que dois deuses tão opostos acabassem por se sentir inevitavelmente atraídos.

E foi durante um dos banquetes da corte de Zeus que tudo ocorreu. Diante de Afrodite sentava-se à mesa dos Olímpicos o deus Ares, o irmão alto, bonito, fanfarrão e cruel de Hefesto(Ἥφαιστος), e que lutava só pelo prazer de lutar. Ares e Afrodite estavam sempre de mãos dadas e soltando risinhos pelos cantos, o que provocava o ciúme de Hefesto. Mas, se por acaso ele se queixava ao Conselhos, Zeus ria-se dele e dizia:

— Tolo, por que foste dar o cinto mágico à tua mulher? Podes culpar teu irmão de apaixonar-se por ela quando ela o está usando?

E lembrou-se do dia em que recebeu Afrodite como sua esposa no Olimpo, após ter submetido sua mãe Hera a tamanha humilhação, exigiu a deusa do amor como tributo pela libertação da senhora do Olimpo.

— Quê?! Afrodite... casada contigo? — Hera indagou desacreditada.

Hefesto respondeu:

— Sim, bem sei que sou feio, mas conheço algo das mulheres para saber que não desprezam a segurança, a inteligência e a fidelidade do marido. E com meu trabalho digno, posso sustentá-la e dar-lhe todo o luxo e riqueza que sua beleza merece.

Hera pensou um pouco, e viu que o tinha razão, principalmente no tocante à fidelidade, já que seu esposo Zeus não era um bom exemplo. Até o senhor do olimpo achou uma boa ideia, pois percebia que a deusa, por ele adotada, era alvo de cobiça e desentendimento entre seus filhos.

Zeus mandou chamar Afrodite, que, diante de proposta tão vantajosa, aceitou imediatamente. Hefesto tomou suas delicadas mãos e depositou nelas o beijo de seus rudes lábios, e remeteu à mais bela das deusas o seu melhor sorriso. E Afrodite, virando-se para uma de suas amigas, as Cárites, sussurrou-lhe:

— Ele me ama mesmo, pois, na minha presença, chora de felicidade!

— É mesmo...— respondeu ressentida a jovem Cárites

Esta atrevida proposta suscitou grande surpresa e indignação aos deuses que pretendiam desposar Afrodite. Mas não houve remédio senão aceitar as condições impostas pelo deus. Hera foi libertada, e ambos fizeram as pazes.

E o deus coxo casou com a mais bela deusa do Olimpo, para a qual edificou um resplandecente palácio de ouro e pedras preciosas, junto às moradas de seus irmãos. E deu-lhe de presente um esplêndido cinturão, que tinha a propriedade de fazer se apaixonar quem o vestisse, pensando em se beneficiar. No entanto, Hefesto não conhecia os limites da mágica que continha o cinturão e, sem ele saber, a tornaria sedutora e infiel.

De volta de seus pensamentos, Hefesto observava a troca de olhares entre o deus da guerra e a deusa do amor, e em seu íntimo sabia que algo estava prestes a acontecer, algo no qual o maior culpado teria sido ele mesmo...

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