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domingo, 7 de julho de 2013

Capítulo 27: PÃ E A CRIAÇÃO DE SUA FLAUTA SIRINGE

PÃ(Πᾶν). Por Genzoman.

— Aprendem as ciências, mas usam-nas para o mal! — esbravejou Zeus(Ζεύς) — E olhem a expressão grosseira de sua Arte! Será que os homens não possuem nem um pouco de sensibilidade?

Afrodite(Ἀφροδίτ) aproximou-se, linda e terna.


— Também não sabem amar — disse ela. — Unem-se como animais no cio. 

E continuam com a sede de sangue! As guerras são cada vez mais freqüentes! — exclamou Thêmis(Θέμις).

Calaram-se todos com a chegada de Hermes(Ἑρμής). Vinha cabisbaixo e triste.

— Meu filho morreu — disse ele, num sopro de voz. — Caiu de cima de um rochedo.

Os deuses fizeram silêncio ante a dor de Hermes. Todos sabiam do amor que dispensava a Daphnis.

Antes de Daphnis, fora pai de Pã(Πᾶν)Hermes, filho de Zeus, pretendendo se unir a Penélope, uma ninfa da região do monte Cilene, na Arcádia, fê-la dar à luz um menino, ou algo assim. Pã nasceu com pés e cauda de cabra. Da cabeça, em meio a uma cabeleira dura e espessa, apontavam dois cornos de carneiro. As orelhas pontudas e a barbicha davam a ele um aspecto selvagem. E tal criatura provocou certa comoção em sua mãe, assustadíssima com tão esquisita conformação, que abandonou-o e fugiu.

Hermes, encontrando-o só e chorando, tomou-o no colo, rejubilante; pretendeu apresentá-lo aos demais deuses, e levou-o enrolado na pele aveludada de uma lebre. Depois, apresentou-lhes o menino. E todo o Olimpo desatou a rir, e deram-lhe o nome de Pã  Levou este nome por ser um ente indefinido, que reunia espécies múltiplas, o que para todos constituiu objeto de diversão.

De fato, os integrantes do grupo riram da aparência estranha e dos gestos engraçados de Pan, mas divertiram-se com ele e o receberam de braços abertos. Amigo de próximo de Zeus, Pan teria sido convidado às suas núpcias com Hera e recebera de presente do rei do Olimpo o domínio sobre os bosques e as campinas, tornando-se ele o deus mais venerado entre os gênios que infestavam essas regiões, especialmente entre os pastores da Arcádia.

Alem disso, o senhor do Olimpo deu-lhe de presente um sem-número de cães de caça, que ele, mais tarde, cederia alguns à deusa Ártemis(Ἄρτεμις). E, impaciente para que seus dons concorressem numa prova esportiva, ela caçou a luz de tochas.

No entanto, vivendo com seus amigos nos campos da Arcádia, guardando rebanhos, manadas e colméias, tomava parte nos festins das Ninfas da montanha e ajudava os caçadores, mas, no geral, era calmo e preguiçoso, não gostando de nada mais que seu descanso, e vingava-se daqueles que perturbavam seu sono com um berro repentino que os assustava.

Pan era igualmente deus das montanhas, e sua região favorita era a Arcádia, onde nascera. Protetor dos pastores e caçadores, também gostava de dançar e cantar, porém o que mais amava era tocar sua flauta, feita por ele mesmo.

Infelizmente, sem querer, o deus de pés de bode despertava nas pessoas um terror incontrolável — que as pessoas comuns passaram a denominar de “pânico” em decorrência de seu nome. O pobre Pan não desejava fazer mal a ninguém, e nas lutas costumava apoiar aqueles cuja causa era justa, difundindo o pânico entre seus inimigos.

As Ninfas das regiões dos pelasgos zombavam incessantemente do pobre Pan, em virtude do seu rosto repulsivo, e o infeliz semi-deus tomou a resolução de nunca amar.

No entanto, os mais encantadores e majestosos bosques de toda a Grécia foram brindados com o surgimento de uma esplendorosa ninfa. Seu nome era Siringe(Συρινξ), cujos lábios carmesins tinham o odor das açucenas e o tom escarlate das cerejas.

A bela ninfa jurara jamais se entregar a homem algum, sendo devota fiel de Ártemis  a deusa da caça e das matas, protetora da virgindade.

Mas Éros, o deus do amor, era cruel como sempre. Pan, desejando um dia lutar corpo a corpo com ele, foi vencido e abatido, diante das Ninfas que se riam. Pan sentiu-se envergonhado e foi isolar-se na floresta, o que não deixou Éros de querer molestá-lo.

Um dia, percorria Pan o monte Liceus, como costumava fazer, e encontrou a hamadríade Siringe, que jamais quisera receber as homenagens das divindades e que só tinha uma paixão: a caça. Seguia o exemplo de Ártemis.

Quem a visse em suas vestes de caça a teria tomado pela própria deusa; a diferença mais gritante é que seu arco era feito de chifre e o da deusa, de prata. Éros resolveu agir e lançou contra o coração do semi-deus uma flecha certeira; Pan gravemente apaixonado, aproximou-se dela, e como nos costumes campestres, foi imediatamente ao objetivo, sem nenhum artifício, sem nenhuma hesitação, e disse-lhe:

— Cede, formosa ninfa, aos desejos de um deus que pretende tornar-se o seu esposo.

Certamente não queria ferir Siringe, a bela ninfa do bosque por quem se apaixonara à primeira vista. Queria falar mais, mas a ninfa, pouco sensível àquelas palavras, fugiu em pânico a toda pressa por entre as árvores do bosque, ao deparar tão singular figura.

E Pan saiu atrás dela, numa perseguição que teve um fim imprevisível. Quanto mais ele corria, mais rápido corria a ninfa. Até que, por infelicidade, Siringe viu seu caminho bloqueado pelo caudaloso rio Ladon(Λάδων), seu pai, e, horrorizada, viu que Pan se aproximava velozmente. Em desespero, sabendo da profundidade do rio, rogou às Ninfas, suas irmãs, e à deusa Ártemis.

Ali o impaciente Pã, num salto ágil de seus pés de bode, pensava tê-la apanhado e presa pelos cabelos, mas o que a sua mão realmente tinha apanhado era uma madeixa de caniços. O próprio deus Ladon, providencialmente, resolveu ajudá-la.

Dizem que ela desapareceu na terra, e que a terra, no seu lugar, produziu os caniços. Então, Pã, cheio de cólera, cortou-os, supondo que escondiam a sua amada. Mas como não conseguisse descobri-la e pensando que a jovem se tinha transformado naquele junco, lamentou os golpes que fez, julgando que tinha morto a sua amada.

Desolado com a perda da encantadora donzela, que desaparecera diante de seus olhos, Pan ficou olhando para o bambu que ficara em sua mão. Não queria jogá-lo fora.

Ao dar um suspiro, seu sopro passou por entre as varetas, produzindo um som melodioso, ouvindo o barulho que o vento fazia ao passar pelo caule oco, enquanto suspirava desconsolado, teve curiosidade e decidiu averiguar, tentando compreender a razão daquele som maravilhoso:

— Pois bem, ninfa metamorfoseada, também a nossa ligação será indissolúvel.

Assim, tendo unido os pedaços das canas como se fossem os membros e reunindo-os num só corpo, tomou entre mãos os fragmentos das canas à medida que as beijava, e o sopro, penetrando nas canas através dos orifícios, produziu sons.

E assim testando-os um a um, soprando-os, sentiu-se realizado com os sons diferentes que produzia. E teve uma ideia: prendeu-os um no lado do outro, com cera, do maior ao menor. E, criando sons ainda mais belos, entendeu que havia criado um novo instrumento musical, e deu-lhe o nome de siringe, que significa “junco”, “caniço”, hoje conhecida pelo nome de siringe ou flauta de Pã, que o consolou da perda que sofrerá.

Com efeito, em breve, os melodiosos acordes de sua flauta fizeram a correr de toda parte as Ninfas que vinham dançar em volta do deus de chifres e os rebanhos eram acalmados...

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