Social Icons

twitterfacebookgoogle pluslinkedinrss feedemail

Pages

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Capítulo 24: A CRIAÇÃO DE PANDORA

PANDORA(Πανδώρα) E HEFESTO(Ἥφαιστος ). Por Jpedro.

Com o passar do tempo a obsessão de Zeus(Ζεύς) para destruir o homem gerado por Prometeu(Προμηθεύς) crescia ainda mais, principalmente após saber da existência da ânfora que continha todos os males que poderiam afligi-los.


Com a ajuda de Athena(Ἀθάνα), o senhor do Olimpo tramava vários planos para a destruição daquele ser, no entanto somente quando Hera(Ἥρα) adentrou no salão para discutir outras questões que uma ideia esplendida passou por sua mente.

— Já sei! — exclamou Zeus.— Hera, diga a Hermes(Ἑρμής) que traga Hefesto(Ἥφαιστος) imediatamente a minha presença!

Hera ia perguntar alguma coisa, mas Zeus calou-a com outro gesto.

— Rápido, mulher! Não temos tempo a perder ou os homens acabarão por destruir até mesmo o próprio Olimpo!

E, pouco depois, Hefesto chegou, acompanhado por Hermes.

— Hefesto — começou Zeus, sem nenhum preâmbulo — preciso de um favor seu. Quero que faça para mim, com seu talento maravilhoso, um trabalho que se torne uma obra-prima, um ser feminino, perfeito. Deve se parecer com a mais linda das deusas em todos os detalhes de seu corpo. Trabalhe dia e noite e entregue-me esta criatura o mais breve possível!

 O divino ferreiro ficou surpreso e um tanto indeciso e confuso. Como iria fazer para contentar o pai? Durante toda a sua vida, tinha feito jóias, tronos, carros, escudos, armas e armaduras para os deuses. Jamais, porém, havia pensado numa obra como a que Zeus lhe pedia; pensava jamais comparar-se com Prometeus, que havia criado o homem... No entanto, sabia Zeus que Níobe e Io eram consideradas por todos como Ninfas, escondendo de sua esposa Héra a real natureza das mesmas. Entretanto, Hefaístos, também dotado de rara inteligência, também sabia, e possuía um dom inventivo. Como não lhe podia desobedecer às ordens, inclinou a cabeça em sinal de assentimento e obediência eesboçando um sorriso, disse:

— Será uma honra para mim trabalhar para o senhor do Olimpo. Sua encomenda estará pronta antes que Selene(Σελήνη) volte a surgir totalmente redonda do céu —  disse o deus das forjas.

Fechando-se em sua fuliginosa oficina juntamente com a deusa Athena, os dois entregaram-se com extraordinário denodo à interessante tarefa. Daquele dia em diante, Zeus passou a contemplar o céu, todas as noites. Viu Selene afinar até desaparecer por completo. Pacientemente, esperou que o risco fino e encurvado voltasse a surgir no céu. E viu o traço da lua tornar-se mais largo, até transformar-se numa circunferência quase perfeita. Então reuniu os deuses.

— No dia em que a lua estiver totalmente redonda no céu, vamos todos nos reunir, em Ritual. Estão avisados e não faltem. Façam antes suas purificações, meditações e jejum, para que aqui cheguem preparados para emitirem sua energia e vontade.

E, no dia em que Selene surgiu no céu como um disco prateado, Hefesto chegou com uma mulher feita de barro. 

— Nunca nada de mais perfeito saiu de suas talentosas mãos, excelente Hefesto! — Disse Athena, entusiasmada. 

— Graças a você, cara amiga, que me auxiliou com seus proveitosos conselhos! — disse Hefesto, devolvendo o elogio.

Atrás dele, vinham todos os deuses, calados e concentrados. Zeus admirou-se ante a perfeição do trabalho de Hefesto.

— Perfeita! — exclamou. — Delicada e linda como uma deusa. Hefesto e Athena, vocês se excederam em tudo o que se refere à beleza! — disse Zeus, aplaudindo com entusiasmo a obra que tinha diante de si. 

E, voltando-se para os deuses:

— Vamos todos ao Santuário dos Santuários. Lá convocaremos as forças do Universo para que transformem esta criatura em um ser vivente.

E, pouco depois, o luar revelava as negras silhuetas dos deuses que, lentamente, subiam ao topo do Olimpo, através da estrada estreita e prateada. Nos braços de um deles desenhava-se uma figura de mulher, rígida e inerte, que oscilava, acompanhando com movimentos compassados, o andar cambaleante do deus que a transportava...

A mulher de barro jazia sobre o altar central. Os deuses, reunidos em círculo ao seu redor, ajustavam mentalmente a intensidade de suas vibrações num acorde uníssono. Uma energia poderosa começou a impregnar o local. E, no momento certo, Zeus aproximou-se do altar e estendeu as mãos sobre a criatura de barro.

— Ó Grande Espírito, que comanda os mundos visíveis e invisíveis, que engendrou a luz e as trevas, eu convoco sua força criadora. Faça de mim um veículo de sua energia e que seja eu capaz de insuflar a vida nesta criatura. Que seja ela um ser vivente, um corpo capaz de abrigar um espírito divino.

E deixou verter sobre a criatura o sangue rubro de um touro sacrificado. O sangue escorreu pela mulher e foi logo absorvido pelo barro. Suas feições foram se tornando mais suaves e o barro tomou uma cor rosada.

— Receba o sangue vívido que a tornará um ser vivente. Que o barro se transforme ao contato com o sangue do sacrifício, que se torne carne, fibras, músculos, ossos, nervos, entranhas e órgãos.

A criatura de barro desapareceu totalmente e deu lugar a um corpo humano feminino, perfeito e belíssimo. Seus olhos eram azuis como o mais límpido céu e sua boca vermelha e úmida. Sua pele era macia como o mais macio dos veludos e recobrindo-a por inteiro havia ainda uma delicada penugem, que lembrava em tudo a maciez da casca do pêssego. Seus membros, por sua vez, eram delicadamente proporcionados, tendo sido exilada deles à força, em proveito da graça. À frente do peito da encantadora criatura, Athena colocara dois pomos que tinham o prodígio de serem, ao toque, ao mesmo tempo macios e firmes, coroando-os ainda, num requinte de perfeição, com duas delicadas protuberâncias, que lembravam duas pequenas cerejas.

Suas curvas eram perfeitas. De cada flanco do corpo desciam duas linhas curvas voltadas para dentro, expandindo-se somente à altura da cintura para dar lugar a um estonteante panorama, tendo ao centro um triângulo hermético, que guardava dentro de si todos os segredos da vida e de sua procriação.

Helios(Ἥλιος) aproximou-se, trazendo nas mãos um vaso dourado, cheio do fogo sagrado, e despejou-o sobre a moça. Esperou que a energia ígnea escorresse pelos canais sutis de seu organismo e se dividisse em duas partes, indo uma para o coração e outra para a base da coluna. Em seguida curvou-se, chegou seus lábios aos lábios da jovem ainda inerte e falou:

— Eu lhe insuflo o sopro divino.

Uniu seus lábios aos dela e soprou. No mesmo instante, ela deu um suspiro profundo. Os deuses continuavam concentrados. A vibração do momento continuava intensa, fazendo ver que o ritual ainda não terminara. Zeus, então, voltou-se para os deuses e disse:

— Aproximem-se, um de cada vez, e transmitam a esta mulher todos os atributos que deve possuir para que seja bela e fascinante aos olhos de qualquer um que dela se aproximar.

Ártemis deu um passo à frente e estendeu a mão direita sobre a moça.

— Que seja para sempre a depositária da graça e da leveza.

Voltou para seu lugar, sendo substituída por Athena.

— Eu lhe confiro a inteligência e o dom da arte da tecelagem.

Cobriu-a com sua manta e ofereceu-lhe o próprio cinto adornado de pedrarias. Afrodite(Ἀφροδίτ) se aproximou.

— Eu lhe ofereço a beleza e. mais que a beleza, o desejo que atormenta os sentidos.

Um a um, os deuses foram se aproximando e dotando a jovem com todos os dons. E, por último, chegou Hermes. Aproximou-se dela com um sorriso matreiro nos lábios. Estendeu a mão direita e falou:

— Eu encho o seu coração com a mentira, com a astúcia, com as artimanhas, com o fingimento e com o cinismo.

Por fim, Zeus tomou-a pela mão e fez com que se levantasse.

— Erga-se e ingresse no mundo dos deuses. Seu nome é Pandora(Πανδώρα)... Pandora! — repetiu Zeus, deliciado. — Tem um som volátil, alado... Magnífico!

Pandora levantou-se e colocou-se no círculo, entre os deuses. A vibração continuava cada vez mais intensa. O ritual ainda não terminara. De frente para o altar, Zeus abriu os braços em cruz.

— Neste momento e com o poder de que estou investido, faço adormecer em sono profundo todos os seres humanos, geração de Prometeu.

Prometeu, atado à pedra, ouviu o chamado de seu nome. Abriu os olhos e viu os homens caírem ao solo, profundamente adormecidos. Sua divina intuição lhe disse que algo os ameaçava. Tornou a fechar os olhos e procurou relaxar. 

Em sua tela mental foi surgindo a silhueta dos deuses, reunidos no ritual. Respirou fundo e, mentalmente, foi separando seu corpo espiritual do físico, dolorido, sofrido, amarrado à pedra escarpada. Leve, flutuou no espaço e, rapidamente, dirigiu-se a Santuário dos Santuários. Ficou parado, no alto, procurando compreender o significado da cerimônia. Zeus continuava a falar, mergulhado em meio a uma energia dourada.

— Deste momento em diante, divido os seres humanos em duas partes. Numa delas, torno inibido o aspecto masculino e, na outra, o aspecto feminino. Ao despertarem não serão mais andróginos, mas serão machos ou fêmeas.

Com um gesto, chamou Pandora e colocou a mão sobre sua cabeça. Continuou:

— Às fêmeas, transmito todos os dons que lhe foram legados, Pandora.

Fechou os olhos, por instantes, em concentração. Depois voltou a abrir os braços em cruz.

— E aos homens e às mulheres determino que jamais voltem a encontrar seu oposto complementar, dentro de si. Deste momento em diante estão os seres humanos condenados a só procurarem o oposto que os complementará fora de si.

Neste instante, o espírito de Prometeu flutuou no ar e pousou, muito leve, em frente a Zeus.

— Por favor, Zeus, eu lhe suplico! Não condene os seres humanos a tão duro sofrimento. Eles não têm culpa de serem como são. O erro foi meu, que os criei cheios de imperfeições e já estou sendo punido por isto. Ao criá-los, pretendi que evoluíssem em inteligência e espírito, até transformarem-se em deuses. Por favor, Zeus, dê a eles ao menos uma chance.

Zeus olhou a figura etérea à sua frente e teve pena da tristeza que viu estampada em seu rosto.

— Está bem, — disse por fim — não mudarei o que já foi feito, mas determino que somente o ser humano que for capaz de encontrar seu oposto complementar dentro de si mesmo, terá a oportunidade de evoluir até transformar-se em um deus. E assim deixo gravada a minha vontade.

A imagem fluídica de Prometeu sumiu por completo, a vibração do local foi se tornado mais suave. O ritual terminara. No céu, Selene já procurava a linha do horizonte para recolher seu carro de prata e Hélios partiu, apressado, pois os dedos rosados de Éos(Ἠώς) já tinham aberto as cortinas da noite para deixar sair sua carruagem de fogo e então Zeus mandou que junto com  Hermes conduzisse Pandora à Terra para onde vivia Epimeteu, irmão de Prometeu.

Pandora agradeceu a todas as divindades os preciosos mimos e, em seguida, subiu num carro dourado, que a levaria ao seu destino, e desceu à Terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário