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domingo, 9 de junho de 2013

Capítulo 19: A PERSEGUIÇÃO IMPLACÁVEL DE ÓRION

ÓRION(Ὠρίων). Por el-grimlock.

Maia(Μαῖα), uma das belas ninfas do monte Cilene, está parada diante do berço. Observa com toda a ternura o seu filho, que está aparentemente adormecido, com o dedinho metido na boca. 

— Um digno filho de Zeus(Ζεύς)! — diz baixinho a filha de Atlas(Ἄτλας). Enquanto observa o filho adormecido, relembrava o dia em que, envolveu-se com o pai dos deuses...


Atlas, o gigante filho de Japeto e Climene(Κλυμένη), havia se unido a Pelione, filha de Oceano e Tétis. Dessa união nasceram as sete Plêiades: Taigeta(Ταϋγέτη), Electra(Ηλέκτρα), Alcione(Ἁλκυόνη), Astérope(Στερόπη), Celeno(Κελαινώ), Maia(Μαῖα) e Mérope(Μερόπη).

Lindas e alegres, logo promoveram a criação de coros de dança e festas noturnas. Sua graça e leveza foi logo percebida pelo terrível gigante caçador Órion(Ὠρίων), filho de Poseidon, que se pôs a persegui-las. Do alto do Olimpo os gêmeos observavam a movimentação.

— Por Zeus, meu pai! Quem é aquele ser belo e gigantesco que passeia sobre a superfície das águas? - perguntou Ártemis(Ἄρτεμις), a deusa da caça, ao seu irmão Apolo(Ἀπόλλων).

— É Órion, filho de Poseidon, não o conhece?

— Não, meu irmão, confesso que não.

— Seu pai lhe deu o poder de andar por sobre as águas. Parece que é um exímio caçador também.

— Um exímio caçador! — repetiu ela, surpresa. — O que mais lhe concedeu o benevolente destino?

— Pouca coisa; às vezes, a beleza nem sempre é indício certo de sucesso no amor. Quer saber o porquê dessa comoção toda?

— Vamos lá, me conte!

— A princípio, as jovens não se importaram com a insistente presença do gigante, mas logo se assustaram, quando compreenderam que Órion havia se apaixonado por Mérope, filha de Eunapius(Εὐνάπιος), rei de Quios. Elas fugiam, assustadas, sempre que o caçador se aproxima, expressando seu desejo através de tenebrosos rugidos. A alegria das jovens Plêiades começou a murchar a sua música se transformou em gritos de susto. Por amor a jovem Plêiade o gigante acabou com os animais selvagens da ilha, levando os despojos à amada. 

— Nossa! tudo isso! —  Expressava sua incredulidade Ártemis.

— O pai dela — continuou Apolo — parecendo satisfeito com o pretendente, concordou dá-la em casamento, embora ficasse sempre adiando a data. Um dia, entretanto, Orion perdeu a paciência e entrou nos aposentos da bela noiva. Ali, tentou possuí-la à força. O pai da jovem, indignado com tamanha afronta, foi até Zeus e exigiu que este o punisse. O rei do Olimpo ultrajado privou-o da visão.

— Cego? Mas ele anda com tanta segurança sobre as águas!

— Ah, minha irmã, você anda sempre tão envolvida com caçadas que não sabe de nada do que se passa entre os deuses e os homens. Falou-se muito neste caso. Órion ficou sabendo através de um oráculo que voltaria a enxergar caso partisse para o Oriente e lá deixasse que o Sol nascente lhe banhasse os olhos. Dito e feito: pôs-se imediatamente a caminho de Lemos, acompanhando o ruído dos martelos dos Ciclopes. Lá chegando,encontrou Cedalion(Κηδαλίων), um anão que trabalhava com metais preciosos, que compadecendo-se dele decidiu então servir-lhe de guia até a morada do Sol. Órion colocou o guia nos ombros e caminhou com ele rumo ao nascente até encontrar o Sol, que lhe restabeleceu instantaneamente a visão. Quando retornou a Quios, para se vingar do rei Eunápio, no entanto, este havia desaparecido, e não houve jeito de encontrá-lo.

—  Fascinante! —  disse Ártemis, que já não ouvia o irmão, mas tinha os olhos fixos na figura máscula que saía da água, vindo em sua direção, com o passo elástico de gigante.

Ártemis, curiosa, convidou Órion para fazer parte de seu grupo de caça.

— É uma honra que nunca imaginei merecer um dia, ó filha de Leto! —  respondeu o surpreso Orion, encantado com o convite e com a beleza da deusa. "Ó divino Sol, obrigado por ter me devolvido a possibilidade de poder admirar outra vez a beleza de uma tal divindade!", pensou ele, erguendo os olhos uma vez mais para o grande e universal astro.

Desde então, tão logo Eos se espalhava pelos céus com seu rosados véus, saíam os dois caçadores, Ártemis e Órion, com suas aljavas e arcos nas costas, a se embrenharem bosque adentro, seguidos pelos ruidosos cães de caça. Subiam montes e vales, perseguindo os alces e os cervos velozes, despistando os terríveis javalis e transpassando-os com suas aceradas flechas.

Certa feita, entretanto, quando Órion caminhava sozinho pelo bosque, vislumbrou novamente as sete belas Plêiades, filhas de Atlas. Elas eram ninfas do séquito de Ártemis e estavam se banhando no rio. Tão logo pôs os olhos sobre elas, viu-se novamente perdidamente apaixonado por Mérope.

— O gigante retornou! Vamos, fujam! — gritou uma das Plêiades, fazendo com que todas lançassem seus belos corpos para dentro da água, transformando o rio num improvisado chafariz devido aos seus mergulhos.

— Porquê fogem, adoráveis ninfas? — gritava o gigante, quase agarrando-as com as mãos descomunais. — Não pretendo fazer-lhes mal algum; sou Órion, não me reconhecem?

Novamente as sete Plêiades não mais tiveram paz: o importuno gigante passava os dias a espreitá-las e a persegui-las, onde quer que estivessem, seja banhando-se nuas nas águas do cristalino rio, seja caçando nos frondosos bosques.

Um dia, contudo, cansadas de não terem mais sossego, as ninfas imploraram a Zeus que as metamorfoseasse em pombas. E foi assim, durante essa perseguição implacável, que Zeus as encontrou. De longe, observou as jovens que se escondiam por trás de arvoredos cerrados, à passagem de Órion. Não quis interferir. Distraído, apenas contemplava a beleza das moças. Quando avistou Maia sentiu que algo tocou seu coração. Um amor terno alegrou sua alma e um desejo morno impregnou seus sentidos. Aproximou-se devagar, ofereceu proteção e segurança às Plêiades assustadas.


— Vim atender as suas súplicas!

Quando o imenso Orion pensou ter agarrado uma delas viu uma pomba sair voando de entre seus dedos, acompanhada de outras seis, deixando em suas mãos apenas um punhado de penas alvas e lisas.

Com esta atitude, Zeus comoveu Maia com seu amor, fascinou-a com seu desejo ardente e, num dia de lua cheia, amou-a sobre a relva úmida e prateada, numa das cavernas do monte Cilene. Para que não fossem flagrados fez descer dos céus uma grande tormenta para abafar os amorosos ruídos de sua união com a ardorosa ninfa.

Dali ha algum tempo,  logo daria luz a Hermes e Maia, sua mãe, voltou a procurar as irmãs, que sofriam as perseguições cada vez mais ousadas e perigosas do caçador Órion. Já cansadas de tanto fugir, procuraram novamente a Zeus.

— Doces Plêiades — disse ele — poderia simplesmente eliminar o caçador com um dos meus raios. Mas acho que a terra é um local muito rude para vocês, que são tão suaves como as luzes do céu.

E transformou-as em uma linda constelação, que passou a enfeitar as noites agora mais estreladas..

Órion, irado, lançou-se pelas florestas, arrancando árvores, chutando as pedras enormes que rolavam, arrancando a vegetação. Vendo isto, Ártemis, a irmã gêmea de Apolo, que protegia as plantas, ficou furiosa e foi tomar satisfações com o gigante. Quem, entretanto, não andava nada satisfeito com Órion era o irmão de Ártemis, Apolo de douradas setas.

— Desde o surgimento deste desgraçado que Ártemis do arco de marfim tem desprezado a minha companhia — reclamava ele, com ciúmes da irmã. — Já é hora de expulsá-lo daqui.

Durante vários dias Apolo esteve procurando uma forma de desfazer-se do intruso, até que uma bela manhã surgiu a ocasião. Observando que Órion caminhava pelo mar apenas com a cabeça acima da água, como costumava fazer, esperou que ele se afastasse a uma boa distância e então chamou com um grito a irmã que estava um pouco mais afastada.

— Ártemis, vamos, veja se é capaz de alvejar aquele ponto negro sobre o mar com um de seus animais. A deusa, que adorava desafios, assestou a sua seta ao arco, pegou em um galho próximo um escorpião, prendeu-o a sua flecha alinhando a ponta de seu ferrão com a de sua seta. A seguir disparou a flecha incontinenti. O ponto negro, acertado em cheio pela flecha, agora envenenada, afundou repentinamente.

— Aí está! — disse Ártemis ao irmão, agitando o arco no ar. Em agradecimento ao escorpião pelo grande serviço prestado, Artêmis transformou-o em constelação.

Dali a instantes as ondas trouxeram para a praia o lívido corpo de Órion.

— Oh, não! — gritou Ártemis. —  Eu o matei! Meu irmão, eu o matei! Ártemis, percebendo que tal fora o propósito de Apolo, desesperou-se.

—  Nunca mais quero vê-lo! —  disse ela, olhando com fúria para seu irmão. Mas como eram ambos muito apegados, logo se reconciliaram. Apolo e Artemis, com efeito, além de serem muito unidos tinham um estranho senso de moral que não os fazia sentir remorsos, mesmo que cometessem alguns crimes francamente repreensíveis, como da vez em que haviam matado todos os filhos da pobre Níobe, só porque esta rainha ousara dizer-se mais bela que a própria deusa.

Vendo que não havia mais remédio que pudesse trazer Orion de volta à vida, pediu então a Zeus que se compadecesse dele.

Zeus ponderou, parou e falou baixinho:

— Suas maldades acabaram, Órion. Mas onde estará o seu espírito? Não gostaria que vagasse em mundos astrais grosseiros, impregnando-se cada vez mais de maldade e desejos de vingança. Vou lhe dar uma oportunidade. Pode ser que, ao ver seu corpo num local sutil e harmonioso, seu espírito também procure a regeneração. E atendendo ao pedido de sua filha plantou-o também no céu, entre as estrelas aparecendo nos céus como um gigante, dotado de um cinto, uma espada, uma grande pele de leão e uma clava. Sírius, seu cão, o acompanha, e as Plêiades, lá em cima, voltaram outra vez a fugir de sua molesta presença...

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