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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Capítulo 16: O NASCIMENTO DE ÁRTEMIS E APOLO

ÁRTEMIS(Άρτεμις) E APOLO(Ἀπόλλων). Por Genzoman.


Por ser a esposa do deus supremo, Hera(Ἥρα)era tida como a protetora dos maridos, mesmo vivendo em eterno conflito com Zeus(Ζεύς). A senhora do Olimpo não tolerava as infidelidades do esposo e frequentemente perseguia os filhos que ele teve com outras imortais e mortais.


Lembrou-se  que  paixão de Zeus era tão grande que o deus não havia poupado nem mesmo sua mãe, Rhea. Prevendo os problemas que o desejo desenfreado do filho acarretaria, ela o repreendeu.

—  Pare com isso seu tolo! não vê que fui eu quem o gerou?

Zeus enfureceu-se e ameaçou violentar a mãe. A resposta de Rhea veio na forma de uma serpente,na qual ela se transformou para se defender do filho.  

No entanto, Zeus fez valer sua ameaça: transformou-se numa serpente macho, enrodilhou em Reia e a amou. Essa foi sua primeira aventura extraconjugal.


— Não permitirei que isso volte a acontecer, isso é uma afronta a mim, a senhora do Olimpo - resmungava hera trazida de volta a realidade pelo que Iris(Ἶρις) acabara de lhe contar.

— É tudo verdade, Hera: Leto(Λητώ) está grávida do seu esposo, Zeus!  Iris, a mensageira dos deuses, era quem descobrira a novidade. 

— Pois quero esta mulher bem longe de qualquer terra, compreendeu? — esbravejou Hera, enciumada. — Bem longe de qualquer terra. 

"Bem longe de qualquer terra"   pensou Iris.  É um bocado longe.

Hera sofreu ciúmes atrozes quando soube que Leto, a filha de Céos(Κοῖος) e Febe(Φοίβη), esperava um filho de Zeus. Leto, que vivia sempre protegida por véus sombrios, escondida nas pregas da noite, perdeu-se de amores pelo esplendoroso deus supremo do Olimpo, e deitou-se com ele, oculta pela escuridão.

A união foi fecunda e, quando sentiu próximo o momento de dar à luz, fugiu do Olimpo, com medo que a vingança de Hera recaísse sobre seu filho. Leto, com o ventre dolorido, foi obrigada, assim, a percorrer o mundo todo — atravessando, exausta, lugares como o Quio, a Trácia, a Mica, a Eubéia, as ilhas do mar Egeu, sem jamais receber abrigo de quem quer que fosse, em lugar algum.

Procurou por todo o mundo um lugar para se esconder, mas ninguém queria dar-lhe abrigo, temendo a fúria de Hera. Nem os duendes, nem as fadas, nem os silfos do ar. E nem os Homens.  Por fim, encontrou refúgio em sua irmã, Astréia(Ἀστραῖα)

Astréia, também filha de Céos e Febe, para fugir das perseguições de Zeus e de suas propostas ardentes, transformara-se em uma ilha flutuante, Ortígia, que não estando fixa, portanto, em lugar algum, não fazendo parte da terra. E foi nessa ilha que Leto descansou e preparou-se para o parto. As dores chegaram e Leto viu-se cercada por ninfas que se aproximaram, temerosas, e por fim resolveram auxiliá-la. Mas, aflitas, nada conseguiram. Leto sofreu durante nove dias e nove noites.

— Onde está Ilitia(Εἰλείθυια), a deusa que propicia os partos fáceis? — perguntavam as ninfas aos duendes assustados.

Ninguém sabia. Ilítia, a filha de Zeus e Hera, não podia ser encontrada em lugar nenhum. Até que os silfos, esvoaçando ligeiros, exclamaram entre silvos e suspiros.

— A deusa Ilítia foi chamada ao Olimpo e lá está retida!

As ninfas entreolharam-se, espantadas.

— Retida? Mas por quem e por quê?

As asas dos silfos bateram mais rápidas.

— Hera! Ela soube que chegou o momento e está entretendo Ilítia, para que ela não consiga chegar a tempo! Hera tem ciúmes!

As ninfas, com pena de Leto, esqueceram-se do medo que tinham da ira de Hera e pediram a Iris, a deusa do arco-íris que trouxesse Ilítia, prometendo dar à divindade um cordão de ouro se ela viesse sem demora.

Quando a deusa que preside aos partos felizes chegou, afinal, à ilha, Leto sofria as mais intensas dores. A deusa, ao presenciar os sofrimentos atrozes pelos quais a pobre mãe passava e resolveu imediatamente socorrê-la.

— O filho de Leto será o mais belo dos deuses, e para mim será uma honra excelsa presidir o seu nascimento — disse ela as ninfas.

E assim foi. Depois de intenso sofrimento, Leto viu seus trabalhos duplamente recompensados pois de seu ventre saíram não um, mas dois filhos — um belo menino, de nome Apolo(Ἀπόλλων), e uma graciosa menina, chamada Ártemis(Ἄρτεμις).

— Ai tens o dia e a noite, um em cada braço — disse Ilítia, ternamente.

Apolo, de pele alva e louros cabelos, de fato era a representação perfeita do sol e do dia, enquanto que Ártemis, de cabelos negros caídos sobre um colo faiscante, representava a lua envolta pela noite. As ninfas levaram-nos a um rio próximo e foram banhados em água pura. Em seguida, envolveram-nos num véu muito branco e os cingiram com um cinto de couro. 

Thêmis chegou e ofereceu-lhes o néctar e a ambrosia, o alimento dos deuses. No exato momento de seu nascimento, cisnes sagrados voaram sete vezes em volta da ilha. Zeus desceu do Olimpo, veio conhecer o filho e presenteou-o com um carro onde se atrelavam os alvos cisnes. Ártemis  que havia nascido primeiro assistira a mãe nos trabalhos de parto, horrorizada com as dores que Leto sofrera, pediu a Zeus o privilégio de se conservar virgem. 

— Pai, — disse ela — assisti às dores de minha mãe e sinto que não suportaria jamais as mesmas penas. Poupe-me, pai, permitindo que conserve sempre minha virgindade.  Conceda-me ainda  tantos nomes quantos tiver meu irmão Apolo; um arco-e-flecha; o dom de trazer a luz; uma túnica de caça da cor do açafrão, com uma bainha vermelha que me chegue até os joelhos; sessenta jovens oceanidas, todas da mesma idade, para que sejam minhas damas de honra; vinte ninfas fluviais da cidade cretense de Amniso, para que cuidem dos meus borzeguins e alimentem meus sabujos quando eu não estiver caçando; todas as montanhas do mundo e, finalmente, qualquer cidade que você possa escolher para mim, mas só uma será suficiente, pois tenho a intenção de viver nas montanhas o maior tempo possível. Infelizmente, as parturientes me invocarão muitas vezes, já que minha mãe Leto carregou-me em seu ventre e me pariu sem dores e, por isso, sinto que as Moiras me fizeram padroeira do parto. Em troca dessas exigências zelarei pela vegetação e protegerei as mulheres grávidas, auxiliando-as no parto.

Ela se esticou para tocar a barba de Zeus, ele sorriu orgulhoso e afagou-lhe os cabelos e disse:

— Com filhas como você, não tenho motivos para temer a fúria ciumenta de Hera! Você terá tudo isso e muito mais: não uma, mas trinta cidades, e uma parte será sua em muitas outras, tanto no arquipélago como na terra firme. E desde agora eu a nomeio guardiã de seus portos e estradas.

Ártemis lhe agradeceu, saltou de cima de seus joelhos de Zeus e saiu sorridente....

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