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terça-feira, 4 de junho de 2013

Capítulo 14: HERA, A SENHORA DO OLIMPO

HERA(Ἥρα). Por Genzoman.

Rhea(Ῥέα), tendo em seus braços uma pequena criança, caminhava durante a noite, sem destino, enquanto relembrava a fatídica noite em que Crono(Κρόνος) tomara o elixir que o fizera vomitar cada um dos seus filhos.

— Sim, agora minha pequena Hera(Ἥρα) está a salvo... Mas até quando? Assim dizi Rhea, após ver resgatada, do ventre de seu cruel esposo, a sua filha querida.



O velho deus havia engolido um a um os seus filhos, tão logo estes haviam nascido; Zeus(Ζεύς), porém, lhe ministrara uma bebida encantada, obrigando-o a regurgitá-los de volta para os braços da mãe. Rhea, a precavida, imaginava agora um meio de manter a salvo a sua filha dileta.

— Tenho um pressentimento de que a ela está destinado um lugar de honra na corte celestial — repetia a deusa intimamente, acariciando os cabelos de Hera.

A mesma Imaginava, como todas as mães, divinas ou não, que sua filha excederia em beleza e poder todas as outras filhas da face da Terra ou da imensidão do céu.

De repente seus olhos avistaram, para o ocidente, um fulgor intenso e exclamou:

— É isto! Levarei-a para o país das Hespérides!

As Hespérides (Ἑσπερίδες), Eram três encantadoras deusas que governavam o país paradisíaco, viviam em um longínquo e inacessível jardim, o "jardim dos deuses", guardado por um dragão (uma serpente gigante) e situado às margens do rio Oceano, no extremo Ocidente, onde a primavera era eterna e a necessidade não existia.

As mesmas passeiam pelos céus, encarregando-se de iluminar todo o mundo com a luz da tarde. Desta forma, fazem parte do ciclo do dia: Hemera traz o dia, as Hespérides trazem o entardecer e Nix fecha o ciclo com a noite.

Ao chegar ao jardim, Aegle(Αίγλη) — "a radiante" deusa da luz avermelhada da tarde, Eritheia(Ερύθεια)— "a esplendorosa" - deusa do esplendor da tarde e Hesperus(Ἓσπερος) — "a crepuscular" - deusa do crepúsculo vespertino,  banhavam-se nas fontes quando Rhea aproximou-se e falou:

— Queridas amigas, preciso entregar a minha bela Hera aos seus cuidados, pois somente aqui ela estará em segurança.

As três abriram um largo sorriso, enquanto uma delas envolvia a deusa em suas vestes esvoaçantes.

— Vá em paz, Rhea — disse esta. — Nós faremos da sua filha a mais poderosa das deusas.

Hera respondeu apontando o dedo para o céu.

O tempo passou e Hera tornou-se uma deusa de maravilhosa beleza. As Hespérides eram unânimes em reconhecer este seu atributo, que fazia par com o da perfeita sapiência.

— Vejam! Os animais e mesmo as flores parecem ficar felizes tão logo sua presença se anuncia.

Hera, contudo, apesar de estar satisfeita naquele lugar paradisíaco, ambicionava mais alto. Com olhos postos no céu, suspirava todos os dias:

— Tudo é belo... mas eu queria mesmo era ser rainha do céu.

Por uma natural inclinação, a moça procurava sempre os lugares mais altos da ilha para dar largas à sua imaginação. Havia um rochedo, à beira-mar, que era o seu refúgio especial.

E brincando esticava seu alvo dedo, dizendo:

— Mais um passinho e posso quase tocar o céu...

Um dia, estando ali sentada, sentiu muito calor. Então avistou no horizonte uma nuvem que vagava meio sem jeito, como que perdida das outras.

— Adoro chuva! — pensou, esticando o pescoço na ânsia de ver as companheiras daquela comparsa extraviada. — O único defeito deste país encantador, se há algum, é o de chover tão pouco!

Então pôs-se em pé, cerziu os olhos e começou a pensar com toda a força:

— Quero muito que chova! Que chova muito! É o que quero!

Hera reabriu os olhos e viu que agora aquela nuvem mal-esboçada e solitária, lá adiante, havia ganho uma inesperada e rechonchuda companheira. A jovem fechou os olhos outra vez e repetiu com toda a força:

— Quero muito que chova! Que chova muito! É o que quero!

Quando reabriu outra vez os seus olhos, viu que um exército de outras nuvens havia se juntado à primeira, engolfando-a num turbilhão escuro e barulhento. Hera colocou-se na ponta dos pés e aspirou profundamente.

— Hum.... Perfume de chuva, não há outro igual.

Num instante as nuvens chegaram, e a jovem deusa comandou do alto uma tremenda tempestade, como nunca as Hespérides haviam visto. Os raios miam ao redor da jovem os seus espadins recurvos, porém sem nunca atingi-la, enquanto a água da chuva a envolvia num frescor delicioso.

Depois que a chuva passou e um vento fresco secou suas roupas, afastando-o para longe as nuvens tempestuosas, Hera olhou para o céu, novamente azul.

— Tudo é belo... Mas eu queria mesmo era ser rainha do céu.

Neste instante uma águia de asas imensas surgiu das alturas. A ave, após rodopiar ao redor da deusa, agarrou-a delicadamente e suspendeu-a no ar. Hera, embora surpresa, não se assustou; algo lhe dizia, secretamente, que o seu sonho começava a se concretizar.

— Para onde me leva, águia sutil?

Foram ambas subindo, a águia e a deusa, até que, adentrando o próprio céu. Hera viu-se diante do jovem Zeus e gritou com seus olhos brilhantes:

— Estou no céu!

O pai dos deuses explicou então a Hera tudo o que havia ocorrido e como ele a havia salvo do ventre do tirânico pai de ambos, Cronos.

Agradecida, Hera abraçou os joelhos de Zeus. Depois disse a ele, radiante de esperança:

— Tudo o que você diz é belo... Mas eu queria mesmo...

O pudor, entretanto,impediu-a de repetir pela milésima vez o seu desejo.

— Sim, adorada Hera, você será, sem dúvida, rainha do céu — completou Zeus, sorridente, que escutara diversas vezes, ali do alto, a jovem clamar por seu desejo. E completou:

— Desde que a vi manejando a tempestade e orquestrando os raios, decidi que viveria sempre junto a mim...


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