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sábado, 8 de junho de 2013

Capítulo 18: DAPHNE O PRIMEIRO AMOR DE APOLO

DAPHNE(Δάφνη). Por LilJessy.

Apolo(Ἀπόλλων) era considerado um ás da pontaria, desde que abatera a serpente Píton(Πύθων), a fera que perseguira sua mãe, Leto(Λητώ), quando o deus era ainda criança. Um dia Apolo caminhava pela estrada que margeava um grande bosque, quando se encontrou com Eros(Ἔρως). O jovem deus, estava treinando a sua pontaria, solitariamente, em cima de uma pedra.


Sem ser notado, Apolo parou para observar a postura do jovem. Com um dos pés escorado sobre uma saliência da rocha, o deus do amor procurava ganhar o máximo de equilíbrio para assestar com perfeição a pontaria. Seu braço esticado, que segurava o arco, era firme sem ser demasiado musculoso; o outro, encolhido, segurando a flecha, tinha o cotovelo apontado para suas costelas, enrijecendo o seu bíceps; todo o conjunto, desde o porte até a dignidade dos gestos, demonstrava grande elegância, e mesmo os músculos das pernas pareciam distendidos, como a corda presa às duas extremidades do arco.

Apolo não conseguiu deixar de sentir uma certa inveja diante da graça do seu involuntário rival. Não podendo mais se conter, saiu das sombras e revelou ao deus do amor a sua presença.

— Olá, jovem arqueiro. Treinando novamente a sua pontaria? — disse Apolo, pondo um indisfarçado tom de ironia na voz.

— Sim — disse Eros, sem virar o rosto para o outro. 

— Estive vendo você manejar o arco, e tomei a liberdade de desenvolver arma similar ao meu uso, assim como minhã irmã Ártemis.

— Curioso... —  indagou eros e apesar de ter seu próprio arco e flechas, quis experimentar o arco muito maior de Apolo.

Tinha acabado de conseguir dobrar o arco, preparava-se para soltar uma flecha quando Apolo lhe disse: 

— Que utilidade tem para ti o arco de um guerreiro? A tua tarefa é usar o teu gracioso arco e as tuas setas para ferires o coração, enquanto o grande arco é meu e uso-o para caçar os meus inimigos, como a grande serpente Píton, que eu matei, embora se esticasse ao longo de uma colina. Mantém-te na tua província, Eros, e não te intrometas na minha. 

— Quer treinar um pouco, também?— Indagou eros, com certa expressão de competitividade.

Apolo, imaginando que o outro debochava dele, reagiu com inesperada rudeza:

— Ora,  e quem vai me ensinar alguma coisa? Você?

Eros, guardando suas setas, já se preparava para se retirar, quando Apolo o provocou novamente:

— Vamos, treine, treine sempre, garotinho, e um dia chegará a meus pés! — disse o deus solar, com um riso aberto de triunfo.

Foi um comentário precipitado. Eros estava determinado a mostrar a Apolo quem era superior, e voou muito alto nos ares para disparar suas setas.

— Vamos... você vai provar agora, um pouco, da minha má pontaria! — disse o deus do amor, mirando o coração de Apolo.

Num segundo a seta partiu, assobiando ao vento e indo cravar-se no alvo com perfeita exatidão. Apolo, sem perceber o que atingira seu peito — pois as flechas do deus do amor tornam-se invisíveis assim que atingem as vítimas —, sentou-se ao solo, abatido por um langor nunca antes sentido.

Naquele momento por ali passava Daphne(Δάφνη), a ninfa filha do deus-rio Peneu(Πηνειός), e como Eros ainda não estava satisfeito decidiu então atirar uma segunda flecha, a da ponta de chumbo, mirou o coração da  jovem e a disparou. Enquanto a primeira seta provocava o amor, esta, endereçada a Daphne  provocava a repulsa. Assim, Eros dava início à sua vingança.

— Divirta-se, agora! — disse Eros, sumindo-se no céu com seu arco. Apolo, após recuperar suas forças, ergueu-se e entrou no bosque, como que impelido por alguma atração irresistível. Tão logo atravessou as primeiras árvores, seus olhos caíram sobre a bela ninfa, que secava os cabelos, torcendo-os delicadamente com as mãos.

— Se são belos assim em desalinho, como não serão quando arrumados? — perguntou ele, já bobo de amor.

A ninfa, escutando a voz, voltou-se para o lugar de onde ela partira. Assustada ao ver que aquele homem de louros cabelos a observava atentamente, juntou suas vestes e saiu correndo, mata adentro. Apolo, num salto, ergueu-se também.

— Espere, maravilhosa ninfa, quero falar com você.

Daphne já havia decidido que não queria nada com homens ou deuses machos, nem desejo sexual nem casamento.Nunca em sua vida Daphne havia sentido tamanha repulsa por alguém como sentia pelo majestoso deus solar. O pior e mais feio dos sátiros não lhe parecia no momento mais odioso do que aquele homem que a perseguia com fúria.

Perdidamente apaixonado, Apolo a perseguiu, mas Daphne fugiu dele, escondendo-se nas montanhas. O rapaz procurou por toda parte e, quanto mais a procurava, mais aumentava o amor que consumia seu coração. Passaram-se dias e semanas, e Apolo ardia de amor e de desejo pela ninfa Daphne.

— Preciso tocá-la, preciso amá-la, ou sinto que morrerei! — balbuciava, em meio às suas buscas.

Um dia, quando já se julgava enlouquecer, viu a ninfa que passava ligeira, com as roupas leves esvoaçando por entre as folhagens. Chamou-a.

— Daphe, não fuja de mim! Eu a amo!

A ninfa, assustada, correu.

— Não corra, eu lhe suplico! — explicou Apolo, enquanto se atirava ao seu encalço.— Não fuja! Não entende que preciso de você, preciso de seu calor, de seu amor? Por favor, volte!

Mas, quanto mais chamava, mais Daphne corria.

— Não tenha medo! Pare, por favor!

— Afaste-se de mim! — gritava Daphne, enojada. Apolo, acostumado a ser perseguido por todas as mulheres, via-se agora repelido de forma tão definitiva.

— Por que foge assim de mim, ninfa encantadora? — dizia, sem compreender. Sem saber como agir diante de uma situação tão inusitada, o desnorteado deus pôs-se a falar de si, da sua beleza tão elogiada por todos, de seus dotes, suas glórias, seus tributos e as infinitas vantagens que Daphne  teria em juntar-se a ele, o mais cobiçado dos deuses. Mas o mais belo dos deuses desconhecia um pouco a mentalidade feminina, senão teria falado mais da bela deusa em vez de falar tanto de si próprio.

Ao perceber, porém, que a corrida desenfreada da jovem acabaria por deixá-la extenuada, o deus gritou:

— Espere, diminua o seu passo que diminuirei também o meu! A ninfa, reconhecendo a gentileza de seu perseguidor, diminuiu um pouco o ritmo.

Apolo, no entanto, que diante da diminuição da distância vira aumentar os encantos da sua amada, acelerou involuntariamente o seu passo, renovando o terror na amedrontada Daphne.

— Mas que canalha! — indignou-se a ninfa, tomando novo impulso para a corrida, mas já estava exausta e não era páreo para Apolo, o deus do astro que jamais se cansa de percorrer o Universo, todos os dias.

Sentindo um peso nas pernas, Daphne  voltou o rosto aterrado para trás e percebeu que as mãos do deus quase tocavam os seus fios de cabelo. Contornando a mata, retornou outra vez à margem do rio Peneu, clamando pela ajuda do velho rio:

— Socorro, Peneu! Faça com que eu perca de vez esta beleza funesta, já que ela é a causa de todos os meus sofrimentos! — disse, disposta a entregar à natureza todos os seus dons em troca da liberdade.

Daphne, a alguns passos do rio, deu um salto, pretendendo atingir a água. mas seu tornozelo foi agarrado pela mão firme de Apolo, fazendo com que seu corpo caísse sobre a grama verde e fofa das margens. 

— Minha mãe Terra! — exclamou Daphne, ao ver que Apolo estava prestes a alcançá-la — Receba-me em seu ventre! Não permita que seja tocada, pois não desejo outro amor que o seu, ó mãe!

Ainda tentou rastejar em direção à água, porém sem sucesso. Apolo, cobrindo-a de beijos, recusava-se a largá-la. Finalmente, com um suspiro de alívio, a ninfa sentiu que seu corpo começava a se transformar, Daphe sentiu que seus pés eram agarradas pela Terra. Seus braços retorceram-se e estenderam-se para cima, cobertos de folhas, suas pernas endureceram e transformaram-se num tronco rígido. Seus pés perfuraram a terra e nela encaravam-se como raízes. Uma casca grossa e enrugada cobriu todo o seu corpo e sua cabeça transformou-se numa copa frondosa. E, quando Apolo a enlaçou, apenas pôde sentir entre os braços a aspereza da madeira de seu tronco. Daphne transformara-se em um loureiro.

Apolo, ao ver que sua amada estava para sempre convertida numa árvore, ainda tentou extrair do resto de seu antigo corpo um pouco do seu calor, abraçando-se ao tronco e procurando-lhe os lábios. Não encontrou a suavidade do antigo hálito da ninfa, mas apenas o odor discreto da resina.

Apolo deixou-se escorregar e curvou-se sobre seu próprio corpo, soluçando convulsivamente. O amor e o desejo faziam ferver seu sangue e a perda da mulher amada fazia com que toda aquela energia corresse desordenadamente por todos os canais sutis de seu ser. Até que, pouco a pouco, ele foi se acalmando e a energia alojou-se na base da coluna, por instantes, e por fim subiu ao cérebro em pulsações de luz. E, bem dentro de seus pensamentos, ouviu a voz de sua mãe!

— Apolo, filho querido, somente agora você realmente conseguiu se purificar. O sangue de Píton não mais macula sua carne e sua alma. O fogo do Amor queimou todas as impurezas que se impregnavam em seu corpo. Mas ouça bem, meu filho. Não sofra mais pela perda de algo que realmente não se foi para longe, mas sim para dentro de você. Cale seus pensamentos e sinta sua alma divina. Perceba que nela reside a ninfa, a mulher. Sinta-a dentro de você. Seja um só com ela. A sarça ardente do amor nasceu em seu coração. Deixe que ela permaneça sempre acesa em seu interior, iluminando a ninfa que reside em sua alma.

A voz se calou e Apolo fechou os olhos, procurando tocar com a mente seu  próprio coração. Sentiu-o quente e palpitando de saudade de Daphne.

— Mãe, — disse ele — entendo o que diz, mas não consigo sentir Daphne dentro de mim. Ela se foi, mãe, e o sofrimento de sua ausência irá me perseguir para sempre.

Novamente escutou a voz de sua mãe:

— Tente realizar a dualidade em seu interior. Não há motivos para a dor. Você é o brilhante, e reinará sobre o sol e sobre as luzes visíveis e invisíveis. E agora, volte, ingresse em seu santuário sagrado e lembre-se sempre de tudo o lhe disse.

Apolo se levantou, colheu um ramo do loureiro e com ele cingiu sua testa. E partiu.

Sua mãe o esperava de braços abertos. Com carinho, apertou-o contra si e tocou respeitosamente em sua coroa de louros. Dias depois, Apolo conseguiu para si o oráculo de Thêmis, em Delfos, cobriu o santuário com a pele do monstro que vencera e consagrou-o. 

A vibração do local ficou tão intensa que as cabras que por ali passavam caíam, tomadas por convulsões, e todos os que aspiravam as emanações que exalavam do santuário entravam, num transe profundo e começavam a profetizar. E ali, naquele lugar santificado e conquistado através de tanto sacrifício, Apolo conseguiu, por fim, anular e ira provocada pelos ciúmes de Hera. Conseguiu, também, curar a dor causada pela ausência de Daphne e encontrou-a dentro de seu coração...

Um comentário:

  1. Olha se Apolo representa o signo de Leão por meio da mitologia que são essas coisas que ele tem que superar com essas duas situações do amor e de gera?

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