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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Capítulo 9: TITANOMAQUIA: A FÚRIA DOS TITÃS

TITANOMAQUIA(Τιτανομαχία). Por Genzoman.

Numa dia incerto, que nenhum calculo humano pode aproximar, deu-se o primeiro lance desta refrega colossal, que os anais bélicos da humanidade batizaram de Titanomaquia(Τιτανομαχία) ou "Guerra dos Titãs(Τιτάν)". Zeus(Ζεύς), apoiado pelos irmãos libertos, iniciou a guerra que duraria 10 anos se arrastava, sem vencedores nem vencidos, os céus enfraqueciam-se com isto o mundo também sofria seus efeitos destruidores.



De um lado, liderados por Crono(Κρόνος), estavam ele e seus irmãos, os poderosos Titãs ("filhos da Terra"), à exceção de Oceano, o qual não concordava com o governo de Crono. Junto à ele estavam Tétis, Mnemosine, Prometeu e Thêmis.

Do outro, Zeus, o filho insubmisso, acompanhado de seus irmãos,ao seu lado também estavam as oceânides Méthis, Estinge os seus filhos (Zelo, Niké, Cratos e Bias) e algumas defecções titânicas que se alistaram à causa rebelde. Os deuses da terceira geração, liderados por Zeus, foram organizar seu ataque no monte Olimpo (daí serem chamados de "deuses olímpicos"), enquanto os Titãs, abrigados no monte Ótris, tramavam a sua defesa.

Uma imensa massa negra de nuvens destacou-se dos limites extremos do Olimpo e começou a marchar, num estrondo feroz de carros de guerra que rondam pelos céus. O empíreo escureceu de tal forma que o Caos parecia haver gerado de seu ventre uma segunda Noite, ainda mais negra e tétrica do que a primeira.

Ocultos acima dessa nuvem prodigiosa, Zeus e seus aliados caíram finalmente sobre seus inimigos. Os Titãs, contudo, bem protegidos em suas trincheiras, começaram a enterrar suas unhas duras e compridas como gigantescas pás de bronze até as profundezas do solo, para dali arrancarem pela raiz, com pavoroso estrondo, montanhas inteiras, que arremessavam em seguida contra os deuses olímpicos.

Uma voz espantosa ecoou, vinda do alto, sobrepondo-se à massa inteira de ruídos:

— Irmãos da nobre causa, desçamos até onde rastejam estes vermes!  —  disse Zeus e, junto com seus aliados, saltou das nuvens com as vestes guerreiras, dando grandes brados de fúria. Seus escudos refulgiam na queda como tremendos sóis prateados, enquanto suas lanças, brandidas com fúria, pareciam raios retilíneos que cada qual portasse com destemor infinito.

— Amantes da nobre verdade, recebamos estas aves de rapina que descem dos céus, tal como elas merecem! — bradou outra voz, desta vez de Crono, encorajando os seus Titãs.

Quando os dois exércitos se misturaram, um ruído mais feroz do que qualquer outro jamais escutado fez-se ouvir, então, por todo o Universo. A terra inteira sacudia-se em tremores, levantando-se de dentro dela imensas labaredas de fogo. Os mares ferviam, e por toda parte não havia um único bosque que não tivesse sido varrido pelo assobio demoníaco de uma tórrida ventania.

Os combatentes, misturados num pavoroso atraque corporal — atirando às cegas, uns contra os outros, cutiladas, rochas imensas, vapores sufocantes e dentadas, assim estiveram por uma eternidade. A vitória não pendia a favor de nenhum dos lados até que Gaia(Γαῖα) procurou Zeus e falou:

—  Zeus, agora você tem seus irmãos e alguns titãs lutando sob suas ordens, no entanto ainda precisa de mais força para derrotar os titãs. Há, ainda, outros membros, distantes, da família que também querem vingança. Os irmãos de Crono. Vá ao Tártaro e liberte os Hecatônquiros(Ἑκατόγχειρες) e os Cíclopes(Κύκλωπες) que lá foram traiçoeiramente aprisionados. Eles o auxiliarão em sua luta.Use a força de seus "tios" e, assim, vencer os titãs.

Por isso, Zeus, abandonou os céus e desceu secretamente nas trevas, caindo dos céus por nove dias até a Terra, e por mais nove dias até os limites do submundo. Lá andou por algum tempo, até que chegou a uma região úmida, silenciosa, envolta em espessa neblina, onde encontrou os Cíclopes,  eram três gigantes, com um único olho no meio da testa e grande habilidade manual: Brontes (Βρόντης), o trovão; Estérope (Στερόπης), o relâmpago; e Arges (Ἄργης), o raio. De longe, Zeus ficou a observá-los. Viu que usavam imensas bigornas para forjarem relâmpagos gigantescos. Zeus aproximou-se e pediu-lhes auxílio:

— Tios, eu os respeito. Eu sei que meu pai Crono os traiu e os prendeu, mas agora eu os liberto com a condição de que lutem ao meu lado. — Disse enfim cortando as correntes que prendiam os Cíclopes.

Como forma de agradecimento por serem libertos os Ciclopes dão a Zeus o poder dos raios. A atividade destes nas bigornas aumentou e logo o senhor do Olimpo armou-se com um quantidade infinita de relâmpagos. Estes forjaram também o tridente de Poseidon(Ποσειδῶν), capaz de controlar os mares e provocar terremotos. Além disso fabricaram o Elmo da invisibilidade o qual presentearam a Hades(Άδης).

A maior proteção de Zeus, porém, era o manto que usava nos ombros, a pele de Amaltéia, a cabra sagrada que o havia criado no monte Dicte. Essa pele mágica — a Égide — protegia-o contra todos os perigos. Por isso, graças a Amaltéia, Zeus jamais seria ferido.

— Companheiros!— Insuflava Zeus. — A ajuda do Ciclopes é bem vinda, mas ainda não é suficiente, libertemos do Tártaro profundo os poderosos Hecatônquiros! — Os terríveis seres que haviam sido aprisionados por Crono nas profundezas da terra e, uma vez libertos, espalhariam o terror entre as hostes inimigas.

Zeus, auxiliado pelos seus, desceu até as tênebras profundas e, continuando sua procura no Tártaro, logo achou Campê(Κάμπη), a velha carcereira do Tártaro, um ser com mil víboras saindo de cada pata, cinquenta cabeças de animais selvagens na cintura e corpo de híbrido com asas negras.

Zeus mata tal monstro e, de posse das chaves daquela intransponível prisão, libertou os Hecatônquiros, no entanto, deparou-se com um problema: por mais fortes que fossem, seus tios eram mortais. Como um modo de convencê-los a lutar a seu lado, ele lhes fortaleceu com Néctar e Ambrosia, trazidas na cornucópia, tornando-os assim imortais.

Após romper com os grilhões que mantinham estas colossais criaturas presas ao abismo, Zeus reuniu-se com seus dois irmãos em um conselho de guerra, e após estabelecer as estratégias de batalha, subiram juntos com seus novos aliados rumo à superfície.

Antes de começar a luta, os deuses reuniram-se ao redor de um altar construído pelos Cíclopes e juraram lutar por um mundo mais justo, melhor. Para alcançar o objetivo, prometeram que dariam toda a sua força e até a última gota de seu ícor — o sangue divino — se assim fosse preciso. Depois, ergueram as lanças e, com um grito de guerra que estremeceu todo o Olimpo, investiram em direção dos Titãs, no monte Ótris.

O titã Prometeu, a exemplo de Oceanos, Rhéa e Métis, resolveu não combater contra os deuses, mas ajudá-los, opondo-se à tirania de Cronos. Prometeus advertiu seus tios, primos e irmãos Titãs de que Zeus deveria ganhar a guerra. Epimeteus resolveu seguir o conselho do irmão, mas não Mênetos e Átlas, comandantes do exército de Crono.

Crono, feliz, já se julgava vitorioso, quando uma fenda enorme rasgou-se sob o chão; imediatamente um vapor negro subiu da cratera num jato hediondo, até envolver o próprio Sol. Tudo estava envolto em trevas sufocantes, quando todos sentiram um baque formidável sacudir o solo. Um tufão poderoso surgiu em seguida, varrendo toda a fuligem espessa e deixando à mostra, sobre a superfície, os três Hecatônquiros, postados lado a lado. Horrorizado, Crono testemunhou que Zeus voltava com um exército monstruoso, que se tratavam de seres "enormes como a mais alta das montanhas" e que possuíam "cem braços e cinqüenta cabeças" .

Seus urros de ódio encheram de pavor a Terra, e os próprios Titãs tremeram ao ouvi-los. Pareciam terremotos a sacudir os alicerces que sustentavam o firmamento, que ameaçavam ruir. O urro colossal, partido de cento e cinqüenta bocas, atroou todo o Universo.

Os Titãs defenderam-se com tanto entusiasmo que a Terra estremeceu e se abriu deixando à mostra o mundo subterrâneo de Tártaros. A destruição, porém, atingiu o máximo quando os Titãs e os deuses lutaram face a face. O fortíssimo terremoto provocou uma terrível devastação, as montanhas afundaram-se no mar, o mar cobriu as terras e os raios de Zeus partiram os rochedos aos pedaços.

O fogo queimava tão alto que suas línguas lambiam o Céu. A pavorosa batalha deu a impressão de que toda a Terra estava sendo tragada para as profundezas de Tártaros, e de que o Céu ameaçava despencar, fazendo ruir seus alicerces. Um terrível brado de guerra ecoou pelos ares negros de densa fumaça e os rochedos arrancados dos montes caíam sobre os campos de batalha.

A luta mortal entre os dois exércitos durava nove anos. E, no décimo ano, a força dos Titãs diminuiu, iniciando assim a implacável perseguição nas terras e nos mares. Exaustos, sem defesa, na tentativa de escapar à horda inimiga, os Titãs fugiram. Os deuses, porém, levando a destruição da guerra, perseguiram-nos até os últimos limites do Oceano ou os pontos mais escondidos da Terra.

Por fim, os Titãs voltaram para seu território. E aí conheceram a derrota. Em um confronto final, como um furação destruidor, os deuses atiraram-se contra os inimigos. Desesperados, os Titãs tentaram defender-se na baía. A Terra e o Céu se encontraram, o fogo e a água participaram da luta, ficou tão forte a escuridão que não se sabia a diferença entre o Dia e a Noite.

Como se o Caos e a destruição ainda não bastassem, os temíveis Hecatônquiros armaram-se com trezentas pedras enormes e atiraram-nas de uma só vez sobre os Titãs. O mundo jamais foi sacudido por terremoto tão violento. Depois, ao cessar o terremoto, um estranho silêncio tomou conta de tudo...

Havia terminado a batalha. Os Titãs tinham sido derrotados. Cronos sentiu-se iludido por sua mãe, Gaia, que a todos controlava, e então foi vencido pela força de Zeus e seus irmãos através de um estratagema elaborado nas profundezas do Tártaro.

Com uso das três armas fornecidas pelos Cíclopes: Hades, invisível com seu elmo, entrou nos aposentos de Crono e roubou para si a foice diamantina de seu pai. Então Poseidon surgiu ameaçando o senhor dos Titãs com o tridente. Distraído por esta ameaça e sem armas para combater, Crono não percebeu a presença de Zeus, que lançou o raio e jogou-o ao chão.

Desnorteados com a perda de seu líder em uma tentativa desesperada os titãs tentaram escalar o monte Olimpo. Em mais um ataque, Zeus no topo joga um raio mortal nos titãs, nesse momento todo o planeta treme. Ao mesmo tempo os Hecatônquiros foram arrancando pedras da montanha e iam jogando a saraivada nos titãs remanescentes.

Sem conseguir resistir ao ataque, os Titãs estavam derrotados, no entanto para Zeus isso não era suficiente e apesar das súplicas de Gaia por clemencia ante aos seus irmãos vencidos, por fim, ele ordenou:

— Serão torturados por toda eternidade,  e aqueles dos quais temeram serão os seus carcereiros.

Acorrentados os Titãs pelos terríveis Ciclopes com pesadíssimas cadeias, foram atirados pelos Deuses nas profundezas do Tártaro, de onde jamais tornariam a sair. Depois, fecharam a horrível prisão com fortes portas de ferro e ali deixaram como vigilantes os próprios Hecatônquiros. Viu-se, então, o velho Crono despido de seus poderes. Sombrio, vagando prisioneiro, na estranha escuridão do Tártaro malfadado, com seus irmãos Titãs, onde passaram a viver horrores desconhecidos dos homens. Nesse lugar, sonhando em novamente ver a luz do Sol, os Titãs haveriam de permanecer prisioneiros para sempre. Esta atitude, no entanto, deixou a "mãe-terra" extremamente ressentida.

Então, Zeus resolveu recompensar Estige, que muito contribuiu para a vitória dos deuses, especialmente para a vitória final. Zeus concedeu que ela fosse a garantia dos juramentos solenes pronunciados pelos deuses. Deu-se também o nome de Estige a uma fonte da terra dos pelasgos, a qual nascia num alto rochedo e perdia-se nas entranhas da Terra.

Suas águas tinham propriedades mágicas: eram um veneno mortal para homens e animais; corroíam e destruíam tudo que nelas fosse lançado. E essa fonte daria origem às águas infernais do Estige. Quando um dos Imortais quisesse se ligar por um juramento solene, Zeus enviaria ao Hades a mensageira Íris, que traria uma porção de água fatídica para que servisse de testemunha ao juramento.

O perjúrio, segundo as ordens de Zeus, seria considerado como falta muito grave e séria, e a punição seria terrível: durante um ano o deus criminoso seria privado de sopro, de ar, de espírito e lhe seriam negados o néctar e a ambrosia. E não seria só: nos nove anos subsequentes o culpado permaneceria afastado do convívio dos Imortais e não poderia participar de suas assembleias e banquetes. Só haveria de se reintegrar na posse de suas prerrogativas no décimo ano.

Átlas, comandante do exército derrotado do rei Cronos, foi condenado pelo então formado Conselho Olímpico a suportar em suas costas o Céu, que ameaçava desabar sobre a Terra. Então, Átlas substituiu um dos alicerces em ruínas, posicionando-se em cima da mais alta montanha da África. E uma cadeia de montanhas passou a vigiá-lo noite e dia, para todo o sempre.

Findada estava a primeira batalha que o Universo conheceu, e da qual saiu vitorioso Zeus, o novo soberano do Universo, para reinar como pai dos deuses sobre todos os homens e as demais divindades. O próprio deus instalou em Delfos a pedra que Crono havia vomitado. Ela ainda está lá, constantemente ungida com óleo, sobre a qual fibras de lã crua são deixadas como oferenda.

— Irmãos — disse Zeus, estendendo o braço e apontando os raios para o alto. — Neste momento, assumo o reino dos céus. A meu irmão, Poseidon, entrego o domínio dos mares e a meu outro irmão, Hades, confio o reino do Mundo Inferior. Sejam justos!

Os raios se acenderam e os trovões ribombaram, estremecendo o céu e a terra. Os relâmpagos retorceram-se no espaço e envolveram os deuses numa aura de luz intensa, transferindo para eles toda a força da natureza. Zeus caminhou, lentamente, em direção ao mundo físico de Gaia e apontou para ele.

— Vejam, irmãos, naquele mundo nasci e cresci e a ele sou extremamente grato. Nele fixarei nosso reinado, e aqui, no alto deste monte que se esconde nas brumas do amanhecer. Olimpo! Será nossa eterna morada!

A vitoria de Zeus e de seus irmãos marcou o alvorecer de um novo tempo —  A era dos Olímpicos.

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