Depois de Caos(χάος) haver feito a sua parte, foi a vez de Gaia(Γαῖα), a Mãe-Terra, ajudar na criação do mundo. Ela quis, então, engendrar algo muito bonito, que pudesse protegê-la e cobri-la, servir de elo entre as divindades e que pudessem realizar uma série de gerações futuras. E foi que engendrou Urano (Οὐρανός), enquanto dormia.
Ao nascer, ele, olhando-a carinhosamente de cima, derramou a chuva fértil sobre suas rachaduras secretas, e dela surgiram a relva, as flores e as árvores. Gaia abriu seus olhos, olhou para cima e viu que, da outra metade do Ovo Primordial, se expandia pela eternidade o Firmamento. Era Urano, sua criação e seu irmão natural. Então, através de Eros, engendrou os Ureas (as Montanhas), que infestaram a Terra.
Póntos (o Mar) nasceu da união simbólica de Gaia com Éter. E entre os filhos engendrados a partir do Ovo Primordial, Urano era o deus maior, o mais poderoso. Porém, todos passaram a temer e respeitar um filho que nascia de Nix e o Caos: chamava-se Móros (o Destino adverso), que todos os seres, até mesmo os deuses, se submetiam.
Como era um ser indefinido, sem sexo, também foi chamado de Aisa, a grande condicionadora da vida, a parte, o lote, o quinhão, aquilo que a cada um cabia por sorte, o próprio Destino. Não pôde ser personificado e, em conseqüência, não foi antropomorfizado, pairando soberano acima dos deuses e dos homens, não como um rei (ou rainha), mas como um ser imutável. E foi habitar na escuridão de uma gruta do Orco, a “morada subterrânea dos mortos”.
E Nix, depois de gerar sozinha Tânato (a Morte) e Aerumna (a Aflição), engendrou ainda muitos filhos com seu irmão Érebos(Ἔρεβος), como Hipno (o Sono), Epífron (“o que reflete sobre o acontecimento”), Caronte(Χάρων)(o barqueiro dos Infernos), Guéras (a Velhice), Oizys (a Pobreza), Poenía (a Miséria) e a Petulância. Uniu-se ainda a seu filho Hipno e gerou os Óneiros: Morfeus, Fântasos, Ícelos, Forbétor (o Pesadelo), e ainda Momos (o Sarcasmo, a Culpa), a Fábula e a Preguiça. E com seu filho Momos, teve uma filha, a Fraude. E, nascida para procriar, teve ainda uma série de filhos: as Queres (deusas do Destino, da Morte violenta), Hipocrisia (o Fingimento), Ácis (a Desgraça), Hybris (a Arrogância), Apate (o Engano), Fílotas (a Ternura, a Amizade), Leza (a Fúria), Epífrone (a Prudência), Éris (a Discórdia), Ftonos (a Inveja), Autos (o Egoísmo), Sigê (o Silêncio), Kryerous (o Frio), Eufrósine (a Benevolência), Styx (o Ódio, a Raiva), Limos (a Fome), as Kakas (os Vícios), Elpis (a Esperança), Pento (a Tristeza), Kedea (os Pesares), Lysímele (o Amor), Léton (a Dissolução), a Obstinação, a Peste e muitos outros.
Com seus filhos, formou a sua Corte Noturna, no Orco, mas construiu seu palácio na Esméria, no Extremo-Oeste do mundo. Os demônios, seus filhos, se ocultavam durante o dia, mas quando o Sol se punha, saíam para dominar a superfície da Terra. Quanto às Queres, deusas ou demônios terríveis, que saíam para rasgar as carnes dos cadáveres, seus nomes passariam a não ser pronunciados para jamais serem invocadas; eram Anaplekte (a Morte dolorosa), Akhlys (a Ânsia de morte), Nosos (a Doença), Ker (a Destruição) e Stygere (o Ódio).
Nix gerou também um grupo de três Ninfas, chamadas Hesperides(Ἑσπερίδες), deusas do poente, que passaram a presidir o lado mais ocidental do mundo, fixando residência para além do Oceano. Chamavam-se Egle, Erítia e Héstia (ou Héspere), mais tarde substituídas por sete belas deusas, igualmente chamadas de Hespérides, filhas do gigante Átlas.
Por sua vez, Éter e Hemera, os filhos do Caos e da Noite, uniram-se e geraram Ergo (o Trabalho), Aletéa (a Verdade), Crísis (a Credulidade) e a Inocência.
Urano, então, assim que viu o Cosmo completo, para firmar o seu poder, envolveu a Terra com seu manto azul e cobriu-a de uma extremidade a outra. Úranos sentava-se em seu majestoso trono de ouro, construído sobre nuvens de muitas cores. De lá, reinava sobre o mundo e todas as demais divindades.
Tártaro(Τάρταρος), pressionado pela hegemonia de Urano, que passava a dominar o Cosmos, foi sepultado no Orco, passando a fazer parte do mesmo. No lugar de seu sepulcro, em forma de uma gigantesca masmorra, seriam encerrados os grandes criminosos, que cumpririam seus mais terríveis suplícios, açoitados pelas algozes Erínias(Ερινύες), segundo a forma de como cada um teria vivido e o pecado que teria cometido.
Lugar sombrio e frio, a partir de então, o Orco passou a ser dividido em dois setores independentes e distantes um do outro: Érebo e Tártaro, primeiramente destinados às divindades que se encontravam em desarmonia com o Cosmos.
Então, Gaia, estendendo os braços para acudi-lo, uniu-se a Tártaros e engendrou os rios Flegetonte(Φλεγέθων) e Cócito e a terrível Campê(Κάμπη).
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