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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Capítulo 8: ZEUS E A LIBERTAÇÃO DOS DEUSES OLÍMPICOS

ZEUS(Ζεύς). Por Genzoman.

Tão logo Rhea(Ῥέα) se afastou, as ninfas viram surgir uma nuvem luminosa e, dentro dela, vislumbraram a imagem de Gaia(Γαῖα), que as acalmou com um gesto. E em seguida ouviram sua voz clara e firme:


— Eu as convoco, Napéias, ninfas dos vales e das relvas, e a todas as ninfas, Oréadas, que ocupam as montanhas e as colinas, Dríadas, rainhas das grandes árvores e Hamadríadas, ninfas dos carvalhos gigantescos. Reúnam-se todas em torno desta divina criança e façam com que cresça em meio à paz, ao amor e à alegria. Sua existência jamais deverá ser conhecida pelos deuses. Ocultem-na do céu e da luz, do sol e da lua, dos mares e das nuvens. O destino dos deuses criados e incriados está em suas mãos, ó ninfas. Sejam sábias e, mais que sábias, sejam protetoras e sejam mães. Do alto, velarei por todos vocês e meu organismo físico lhes dará abrigo.

E, dizendo isto, tomou a criança nos braços, levou-a para o interior de uma gruta e depositou-a sobre um monte de capim macio. Feito isto, voltou aos céus. As ninfas trataram logo de amarrar o berço improvisado de Zeus(Ζεύς) entre duas árvores no interior da gruta, pois só assim Crono(Κρόνος) não o encontraria nem na terra, nem no mar nem no ar, no entanto a criança começou a chorar. As ninfas Adrasteia(Ἀδράστεια) e Io(Ἰώ) a embalaram e cantaram acalentos, mas nada a fazia calar.

— Acho que tem fome — sugeriu uma delas.

As outras entoalharam-se.

— E como iremos alimentá-lo? De que se alimentam os deuses?

Desoladas, não encontravam uma solução. Com medo de que o choro do bebê fosse ouvido nos céus, chamaram rapidamente os 
Curetes(Κουρῆτες) e fizeram com que dançassem em volta do berço de capim, brandindo suas lanças e escudos em meio a um grande alvoroço, que logo abafou com seu ruído o pranto convulsivo.

— Escutem todas! — exclamou Adrasteia, uma das ninfas. — Vi uma vez a ninfa-cabra 
Amaltheia(Ἀμάλθεια) alimentar seus filhos com o leite de suas tetas. Quem sabe se o menino-deus se alimentaria desse leite?

— Que tolice está dizendo! — retrucou Io — A cabra é um animal de corpo físico, uma autêntica habitante do mundo de matéria. Este menino é etéreo, não pertence ao mundo físico. Como poderia se alimentar de leite animal?

Sacudiram a cabeça, desanimadas. De repente, uma ninfa que até então permanecera calada e pensativa, estremeceu e arregalou os olhos, era Melisso(Μελισσεύς).

— Já sei! Acabei de ter uma visão, onde Gaia me ensinou como alimentar a criança. Tragam a ninfa-cabra 
Amaltheia!

Pouco depois chegava a cabra, peluda e horrenda, com seus enormes chifres retorcidos sobre a cabeça enorme. A vidente ordenhou-a, colheu o leite numa cabaça rachada. Esfregou dois gravetos e fez fogo. As outras recuaram, amedrontadas.

— O que está fazendo? Roubou da carruagem de Hélio?

Mas a ninfa, compenetrada em sua magia, nem respondeu. Aqueceu o leite, recolheu o vapor que dele emanava no bojo de uma flor e levou-o à boca sôfrega do menino. Ele aspirou o vapor esbranquiçado e logo se calou. Fez o mesmo com o mel e Zeus também o tomou.

Os seres da floresta também adoravam o pequeno deus e estavam sempre prontos para servi-lo. As próprias abelhas, as “melissas”, mostravam seu amor ao pequenino Zeus, todos os dias, trazendo-lhe mel.

E, assim, a ninfa-cabra Amaltheia amamentou, com seu leite animal, o etéreo menino-deus. A bondosa cabra gostava do pequenino como se fosse sua cria, dava-lhe seu leite e cobria-o com carícias maternais. Sempre que o menino ia brincar, ela ficava por perto vigiando. Zeus também a amava. Não havia maior alegria do que brincar com ela ou passear em seu lombo. Amaltéia, por sua vez, dócil e paciente, a tudo topava.


Um dia, porém, o pequeno Zeus agarrou-se tão forte a um dos chifres da cabra que, quando notou, ficou com ele na sua mão. Amaltéia ficou desolada e olhou-o de um modo reprovador. Triste com sua falta de cuidado, o pequeno deus pediu a Amaltéia que não ficasse aborrecida. Prometeu-lhe que transformaria um dia em algo especial.

Sendo assim, o jovem Zeus, que havia escapado da "fome" de Crono  graças à sua mãe, Rhea, cresceu nas grutas da ilha de Creta, alimentando com mel e amamentado nos primeiros anos pela cabra. Zeus cresceu forte e saudável, sempre ao lado de Amaltheia.  Já era rapaz quando percebeu, pela primeira vez, que a cabra envelhecia. Correu os dedos pelo corpo áspero da criatura que o aleitara.

— Estranho... — pensou ele — Ela está ficanto tão velha. E como seu corpo é diferente do meu! É denso, pura matéria...

E analisou seu próprio corpo, diáfano e rosado. Em seguida, tocou o solo, afastou as pedras e falou consigo mesmo:

— Como seria bom se eu pudesse habitar num corpo físico, compatível com este mundo denso. Seria etéreo e material ao mesmo tempo. Poderia habitar a terra e o céu, saberia como me deliciar com os tesouros do mundo e teria no espírito a sabedoria dos deuses.

Mas como conseguir isso? E por mais que meditasse, não resolveu o problema. Um dia 
Amaltheia morreu. Triste, Zeus velou seu corpo e até os Curetes fizeram silêncio. Depois, calado e ensimesmado, retirou a pele grossa da cabra e deixou-a curtir ao sol. Com uma prece, recolheu-se por algum tempo e, em seguida, fez com que Amaltheia subisse aos céus e transformou-a numa constelação de estrelas, sob a forma de Capricornio.

Ele também tomou emprestado um dos chifres do animal, semelhantes aos de uma vaca, e o ofereceu as filhas de Melisso. Esse chifre se transformou na famosa Cornucópia(Κέρας της Αμάλθειας), ou corno da abundancia, de onde saíam centenas das mais deliciosas frutas: figos, uvas, maçãs e tudo o mais, estando sempre repleto da comida ou bebida que seu proprietário deseje. . De sua pele fez uma túnica e vestiu-a, a Égide(Αιγίς). E foi então que uma grande Águia lhe apareceu.

— Zeus,  já é hora de saber sobre o terrível perigo que você corre. — A ave então, narrou ao deus todo o drama que dera origem à sua existência. — Chegou o momento de ocupar seu verdadeiro lugar entre os deuses. Esteja preparado para assumir o trono de seu pai. Minha mestra Gaia voltará em breve para buscá-lo. Até lá, medite e desperte suas forças.— Disse a águia, estendendo as longas asas, para enfatizar suas palavras e levantou voo sem dizer mais nada.

Zeus, que era um rapaz ordinariamente forte e corajoso, acatou imediatamente a sugestão da sua fiel conselheira e retirou-se então para o fundo da gruta que lhe servira de berço e meditou. Sentia que, quanto mais voltava sua atenção para seu interior, mais forças trazia para si. 

Durante este tempo, certo dia, Crono, acreditando ter direito de abusar de sua vontade sobre todas as criaturas da Terra, como senhor do Universo, viu na região da Hemônia uma das filhas de Oceano, Fílire, do alto do Céu, e desejou possuí-la, e pôs-se a persegui-la.

A ninfa oceânide foi abrigar-se numa ilha distante, no oriente, próxima à cadeia do Cáucasos; ela chamava-se ilha de Cronos. Ela, para despistar o seu perseguidor, metamorfoseou-se numa égua, mas o rei e senhor dos Titãs conseguiu encontrá-la nessa situação, por isso metamorfoseou-se também num garanhão e cobriu-a.


Porém, ali mesmo, a rainha do Céu, a titânida Rhea, surpreendeu os dois amantes, e Crono, o pai dos deuses, saltou das costas de Fílire. Ela também fugiu, envergonhada, para o monte Pélion, na Hemônia, onde nasceu dessa união o centauro que ela pôs o nome de Quíron, ao passo que a ilha de Cronos passou a levar o nome de ilha de Fílire.

No entanto, ao ver a monstruosidade a que dava à luz, um menino com corpo de potro, repudiou-o, e os deuses, para castigá-la, transformaram-na num limoeiro, para que não tivesse memória nem consciência, amargando para sempre na Terra.

Enquanto isso, Zeus aguardava  até que chegou o momento em que novamente Gaia lhe apareceu.

— Zeus, — disse ela, estendendo-lhe a mão — chegou a hora de agir. Venha comigo e tome o lugar que lhe pertence por direito.

Zeus segurou a mão que lhe era estendida e caminhou ao lado de Gaia. Quando chegaram ao monte Ótris, a fortaleza dos titãs, Gaia entregou-lhe uma bebida, dizendo:

— Esta poção mágica foi preparada por minha filha, Méthis. Leve-a com você e faça com que seu perverso pai beba e num instante verá regurgitados todos os seus aprisionados irmãos que foram devorados. Seus irmãos serão seu exército e juntos resgatarão o reino dos céus.

Zeus conseguiu disfarçar-se de escansão de Crono, oficial que deveria servi-lo, então estava para por em prática o plano fatal no Monte Ótris, a morada dos deuses da segunda geração, ou seja, os Titãs.  Quando Rhea viu o filho, logo o reconheceu. Emocionada, abraçou-o com ardor longe das visstas de Crono.

— Mãe — disse ele — como senti falta do calor de seu seio. Mas agora a tenho comigo e sinto-me gratificado. Seu calor me dará forças para ocupar o lugar que me pertence.

Estendeu-lhe a beberagem feita por Méthis.

— Mãe, ofereça ao rei esta bebida, junto com sua refeição. Depois disto, poderemos conquistar seu trono.

Crono não percebeu o ardil de que fora vítima, apenas questionou a exposa:

— Que espécie de néctar é este, que tem o brilho de todas as cores e se perfuma de todos os odores? — perguntou Crono arregalando o olho para dentro da taça.

Rhea respondeu desviando ao mesmo tempo o olhar da carranca severa do marido:

— Um néctar como nunca experimentou igual!

Crono,  após infinitos vacilos, tomou a bebida em uma taça de ouro. A princípio estalou os beiços, achando maravilhosa a poção. Durou pouco, entretanto, o prazer, pois logo em seguida o velho começou a passar muito mal.

— Mas o que é isto? — exclamou  Crono, fazendo-se todo branco. — Sinto náuseas fortíssimas!

Dali a instantes Crono começou a regurgitar. Primeiramente O velho titã  vomita a pedra que Reia tinha lhe dado no lugar de Zeus e em seguida regurgita todos os seus cinco filhos, de seu corpo saíram um a um os filhos que havia devorado. Pobre deus! Iluminados por raios de luz e, contrariando todas as leis do Tempo, como já fazia muito tempo que os engolira, agora se via obrigado a restituí-los completamente adultos. A incrédula  Rhea, que estava junto do esposo, ia recebendo cada um dos filhos com a face lavada em pranto:

— Oh, Hera querida... Héstia amada... Adorada Deméter... Poseidon, meu anjo! Hades, meu amor...

Com o retorno de seus irmãos, Zeus havia dado o primeiro e irredutível passo para retirar o poder supremo do mundo das mãos de seu pérfido pai. Aguardaram Crono recobrar a consciência. Atônito, o senhor dos titãs quase não conseguiu compreender as palavras de Zeus:

— Exijo, que me ceda agora o cetro do mundo! — Exclamou Zeus, com altivez e confiança.

— Como ousa levantar mão ímpia contra mim, o soberano do mundo? — exclamou Crono, repetindo ao filho algo que lhe soava estranhamente familiar. — Como ousa levantar mão ímpia contra mim, o soberano do mundo? Quem é você, insolente? Por muito pouco me fiz amigo de sua raça, mas agora pagará caro por tamanha afronta!

Os filhos de Crono se reuniram e fizeram de Zeus seu líder, pois agora era o mais velho.  A frente dos demais ele proclamou:

— Sou Zeus, o mais novo dos seus filhos, e você não conseguiu me devorar! Fui há muito tempo substituído por uma pedra, e de pedra se tornará meu coração se não renunciar!

Crono arregalou os olhos. No momento em que percebeu que havia sido enganado, era tarde demais.

— Mas isto é o fim dos tempos! — acrescentou Crono, criando uma frase que as gerações futuras repetiriam sempre que uma civilização entrasse em decadência. — Como se atreve?! Conspiram contra mim!

Crono, então, com fúria no coração, partiu para cima de Zeus, quando surgiram ao seu lado seus irmãos Poseidon(Ποσειδῶν) e Hades(Άδης), que instantaneamente se posicionaram para protegê-lo. Crono, então, invocou o auxílio de seus poderosos irmãos, Hiperíon, Jápetos, Céos e Crios, que prontamente surgiram ao seu lado. Não podendo enfrentar os Titãs de mãos vazias, já que eram demasiadamente poderosos, Zeus e seus irmãos retiraram-se às pressas para reunir forças.


Zeus contou com o auxílio de seus irmãos e demais deuses. Não estiveram sozinhos na batalha que iriam travar. Aliaram-se a eles o poderoso Oceanos e seus filhos, que lutavam pela ordem, pelo trabalho e pela paz, respectivamente a poderosa oceânide Estige e seus filhos Cratos, Zelos, Bia e Niqué, que foram os primeiros a prestarem auxílio a Zeus. Outro aliado foi um deus que gostava muito da raça humana: Prometeu, filho do titã Jápetos, que resolveu ir contra o seu próprio pai em prol da humanidade.

Pressentindo, no entanto, o perigo, Crono tratou logo de ir procurar seus antigos irmãos e aliados - os velhos, porém fortíssimos, Titãs.

A Guerra dos Titãs, a Titanomaquia, apenas começava a ser esboçada, a luta pelo controle do cosmos...

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