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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Capítulo 80: PROFECIA MORTAL: LAIOS MORRE PELAS MÃOS DE SEU PRÓPRIO FILHO ÉDIPOS

Édipos(Οἰδίπους). Por anndr.
Com a morte de Anfion(Ἀμφίων) e Zetos(Ζῆθος), Tebas, agora rodeada por muralhas, ficara sem rei, e o povo decidiu procurar Laios(Λάιος) para suceder os reis gêmeos. Ainda incomodado pela morte de Crísipos(Χρύσιππος) o agora imperador de Tebas esquecera-se completamente que Pélops(Πέλοψ), lançava-lhe terríveis maldições, e que a Laios trariam terríveis conseqüências. Hera(Ἥρα),  ainda ressentida pela afronta de Laios, determinou que Tebas estava destinada a ser importunada por um espectro maligno vindo dos confins da Etiópia: a Esfinge, com seu enigma das três gerações e seu poder devastador, para punir Laios por seu envolvimento.



Laios tomou por esposa a linda filha de Menécio(Μενοίτιος); chamava-se Jocasta(Ἰοκάστη), apelido que recebera durante a sua infância e assim passou a ser chamada pelo povo e por toda a corte. Contudo, não tinha filhos e estava muito preocupado em não haver um herdeiro de sua linhagem para o trono.

— Querida esposa, irei para Delfos, consultar o Oráculo de Apolo(Ἀπόλλων), para saber o que está acontecendo e pedir a ajuda do deus para que eu tenha um herdeiro.

Embora Jocasta não desse muita importância a oráculos, concordou com o marido. Assim, Laios, levando consigo ricos presentes, foi pedir a ajuda de Apolo.

Laios achegou-se diante da Pítia, a sacerdotisa de Apolo, que o recebeu em transe profundo, pois se encontrava sentada sobre a trípode, com os braços magros estendidos sobre um vaso enorme, de onde saía a fumaça e a mesma ia inspirando a densa fumaça das ervas aromáticas e folhas de loureiro queimadas.

E fez um pedido a Apolo:

— Ó Apolo, conceda-me a graça de um filho!

Quando, porém, a Pítia lhe proferiu o Oráculo em versos, como costumava proferir, Laios ficou aterrorizado. Em sua mente, claramente a Pítia lhe proferia e o advertira da maldição de Pélops:

— Se você desejava salvar a cidade, então deveria morrer sem filhos.

O que para um rei era terrível: como morrer sem deixar um decendência?.No entanto a pítia continuou:

— Filho de Lábdacos(Λάβδακος)! Veio aqui e pediu a dádiva de ter descendentes e seu desejo realizar-se-á. Terá um filho, mas o seu destino é morrer pelas mãos dele e toda a sua raça se afogar em sangue. Assim decidiu Zeus(Ζεύς), o filho de Cronos, que quer que você pague pelo pecado que cometeste contra Crísipos, o filho de Pélops!

Por causa da maldição, e do aviso do oráculo, Laios tentou evitar ter filhos. No entanto em uma noite de comemorações o mesmo acabou muito embriagado e cedendo ao prazer deitou-se com Jocasta, concebendo assim seu herdeiro.

Enquanto a mãe do bebê transbordava de felicidade, voltava à tona a preocupação na cabeça real do pai. Temia a realização do oráculo. Laios foi consultar Tirésias(Τειρησίας). Laios o saudou e fez a pergunta:

— Minha esposa, a rainha de Tebas, espera uma criança. Qual o presságio dos deuses?

O vidente ficou calado por instantes e depois respirou fundo. Sua voz se tornou grave e profunda.

— Ela terá um filho que o matará! — Revelando assim a mesma fatídica notícia do Oráculo.  — Mas isso não é tudo, este herdeiro  matará o pai e, ainda mais, se casará com a própria mãe.

Laios estremeceu. Um filete gelado correu por sua coluna. Esperou um pouco e, como ele nada mais lhe dissesse, voltou-se e saiu.

Quando Jocasta soube da profecia, chorou. Mas era uma rainha e as rainhas tinham que ser fortes.

— Meu filho terá que morrer — disse ela, procurando aparentar uma coragem que não tinha. — As parteiras conhecem algumas ervas que interromperão a gravidez.

— Não, minha esposa! — exclamou Laios, abraçando Jocasta com força. — Não tome essas ervas enfeitiçadas. Tenho medo que elas lhe façam mal e jamais venha a conceber outro filho. Talvez estas predileções tenham sido enganadas e nasça uma menina. Vamos aguardar.

O parto foi difícil. Jocasta já perdia as forças quando, finalmente, a criança emitiu o primeiro vagido. Laio empurrou as parteiras e pegou o recém-nascido, ainda todo sujo de sangue. Depois fechou os olhos e, com um gemido, devolveu-o às mulheres. Era um menino.

Laios não deixou que Jocasta visse o filho. Para evitar o cumprimento do Oráculo e das previsões de Tirésias, no terceiro dia desde o nascimento do filho, embrulhou-o em mantas e colocou-o num cesto. Depois chamou um escravo e entregou a ele o cesto, dizendo:

— Os presságios dos deuses não são bons para esta criança. Leve-o daqui e liquide-o.

O escravo levaria o cesto para o monte Citéron,  nas vizinhanças de Tebas, como era de costume, e deixá-lo à mercê das feras. No entanto, o servo hesitou, e o rei ameaçou-o:

— Vamos, homem, o que está esperando? Leve o menino e amarre-o numa árvore para que não saia engatinhando e não o encontrem! Se você não fizer exatamente como estou ordenando, eu mesmo o aplicarei morte horrenda!

E o servo, amedrontado, sabendo que não seria castigado pelos deuses, já que o rei o obrigava, baixou a cabeça e respondeu:

— Meu senhor, eu farei o que me mandou.

Depois que o escravo partiu, Laios voltou para junto de Jocasta, que repousava sobre cobertas limpas e perfumadas. Ela abriu os olhos e fitou-o, ansiosa.

— Laios, onde está a criança?

Ele segurou suas mãos geladas e beijou-as.

— Era um menino, você já sabia?

Ela assentiu debilmente com a cabeça. Não perguntou mais nada, apenas fechou os olhos e ficou imóvel. Foi somente depois que Laios saiu do quarto, que as lágrimas começaram a escorrer, aos borbotões, pelo rosto belo e cansado.

O servo de Laios, então, correu com a criança nos braços, ocultando-se nas sombras dos becos escuros de Tebas, seus pés descalços chutavam os gravetos, pelo caminho, e, distraído, resmungava, como se falasse com algum companheiro invisível:

— Não estou gostando nada desta tarefa. Pobre criança, por que preciso matá-la?

De vez em quando parava, pousava o cesto no chão e colhia alguns frutos maduros.— Como pode o rei saber, com certeza, o destino do menino? Não acredito nessa história de oráculos...

Quando chegou ao topo do monte Citéron, abriu o cesto. Afastou as cobertas que envolviam o bebê que, ávido de fome, agarrou seu dedo e levou-o à boca, sugando com força.

— Pobrezinho... Está com fome, não? Você é tão bonito... Como poderei matálo, simplesmente, como quem mata uma ovelha para o almoço? Aliás, nunca matei nenhuma, até hoje. Nunca tive coragem...

Olhou de novo para o bebê.

— Acho que vou deixá-lo por aqui mesmo... Pode ser que alguém o encontre e o pegue para criar.

Então, amarrou o menino por um pé num galho de árvore, com nó apertado, e abandonou-o à própria sorte. Hesitou mais uma vez, mas manteve-se firme e deixou-o.

Contudo, enquanto ia embora, ressoava em seus ouvidos o lamento mortificado de Jocasta, a mãe que estava perdendo a coisa mais preciosa que uma mulher podia desejar. Assim, o pobre homem, espantando rapidamente todo e qualquer intuito de abandonar a criança na floresta, dava tratos à imaginação para encontrar um modo de salvá-la.

Já ia se afastando, quando se lembrou de alguma coisa e voltou.

— Não posso fazer isto! E se alguém resolver levá-lo de volta para o palácio?

Na certa serei um homem morto!... Não tenho coragem de matá-lo, mas também não posso abandoná-lo, simplesmente. Céus, não sei o que fazer!

Uma idéia acendeu seu rosto.

— Já sei!... É uma grande maldade, mas é o único meio que encontro de salvar a sua vida. Arrancou o gancho rígido que servia de alça para a cesta, afiou uma das pontas numa pedra áspera e segurou os pés rosados do bebê.

— Minha criança , perdoe-me, mas tenho que aleijá-lo. Desta forma, ninguém terá coragem de levá-lo ao palácio e ficará oculto para sempre das vistas do rei.

Perfurou os calcanhares da criança com o gancho e atou seus pés com uma correia. Depois desceu o monte correndo, respirando fundo para aliviar-se da náusea que retorcia seu estômago. Nunca chegou a saber que, amarrado no alto de um rochedo, alguém assistia a tudo.

— Homens!... Ah, os homens! — suspirou Prometeu(Προμηθεύς) — Zeus destruiu minha geração e pretendeu criar uma melhor, mas não vejo grande diferença. São tolos, ignorantes, não sabem compreender a palavra dos deuses. Pobre criança, ferida e entregue à própria sorte e, no entanto, seria um excelente rei para Tebas. Quando irão os homens compreender que as profecias existem como um aviso e não como um fato consumado? Quando irão entender que sua Vontade pode modificar o futuro que foi vaticinado? Às vezes penso que os deuses jamais permitirão aos homens conhecerem esta Verdade e jamais ensinarão a eles a modificarem os desígnios divinos. Preferem que sua Vontade seja acatada e nunca discutida e, muito menos, interferida pelos humanos.

O vulto de um pastor surgiu ao longe, por trás de umas árvores que ladeavam a descida do monte Citéron. O pastor parou, procurando localizar de onde vinha o choro convulsivo de um recém-nascido.

Prometeu se calou e ficou acompanhado os passos indecisos do homem. Prendeu sua atenção à mente do pastor e mostrou-lhe a direção certa. E sorriu, quando o homem achou o infante. O pastor de Sícion, cujo nome era Forbas(Φορβας), ao ver o bebê, levantou a criança, apertou-a contra o peito e desceu o monte, correndo como uma lebre assustada.

— Veja, mulher, o que encontrei no alto do monte! Uma criança abandonada! Veja como chora! Deve ter fome...

A mulher acabou de ajeitar os panos que envolviam seu bebê e desembrulhou a criança que o marido lhe estendia.

— Pelos deuses! — exclamou ela — Quem teria feito tamanha maldade com um recém-nascido? Veja, Forbas, o que fizeram com os pezinhos dele!

Forbas se curvou a arregalou os olhos. Depois, com cuidado, retirou as correias que atavam os pés pequeninos e tenros e arrancou com jeito o gancho enfiado nos calcanhares. Depois colocou ervas maceradas  tratando de suas feridas e enrolou tudo com panos limpos.

A mulher pegou o bebê que esperneava e berrava, já quase sem fôlego, abriu a roupa e aproximou-o do seio túrgido. Apertou um pouco o peito, até que um grosso fio de leite jorrou e sujou o rosto do bebê. Segurou-lhe a cabeça com firmeza e introduziu o bico escuro entre os pequeninos lábios rosados. A criança se calou imediatamente e, no silêncio da choupana, só se ouviam os estalos da boca gulosa. Depois regorgitou e dormiu.

A mulher afastou os panos que envolviam os pés feridos da criança e espiou.

— Forbas, nunca vi tanta maldade. Quem teria feito isto? — beijou de leve o rosto do bebê. — Vou chamá-lo de Édipos(Οἰδίπους).

Forbas sorriu. Sua esposa não poderia ter encontrado um nome melhor para o menino, uma vez que aquele nome servia para designar todos aqueles que tinham os pés inchados.

Sua mulher, encantada, desejou ardentemente adotá-lo, e propôs:

— Fiquemos com ele!

Forbas pensou um pouco, mas sabia que não poderia contrariar o destino que lhe era reservado.

— Não sei para que pegaram esta criança! — exclamou a sogra de Forbas, vendo Édipos brincar com seu neto — Aleijado, mal se mantém de pé! Será sempre um fardo inútil em sua vida, Forbas.

Forbas sabia que ela tinha razão. Ninguém recolhia crianças defeituosas. Somente os meninos fortes e as meninas belas tinham chance de encontrar um lar adotivo.

— Tive que recolhê-lo — explicou ele, como que se desculpando — Alguma coisa me fez ter tanta pena daquela pobre criança, ferida e abandonada! Na certa iria morrer!... E eu parecia escutar uma voz que me dizia: Leve-o consigo, Forbas! Não o deixe morrer!

A sogra se calou e balançou a cabeça. No íntimo, gostava de Édipos. Depois disse:

— Ouvi dizer que os reis de Corinto não têm filhos. Quem sabe ficariam com ele?

O pastor olhou-a, pensativo.

— Não é má idéia... Podemos tentar.

Portanto, cuidaram dele por algum tempo e, depois, Forbas conseguiu uma audiência com Pólibos(Πόλυβος) filho de Drias e neto do deus Áres, que havia sido outrora abandonado por sua esposa, Alcínoe, pelo amor de Xantos, um homem de Sámos. Agora, como soberano de Sícion, casara novamente, desta vez com Peribéia (ou Mérope), que, por não terem filhos, estavam tristes, pois não havia nenhuma criança que lhe alegrasse a corte. Humildemente Forbes explicou como havia encontrado Édipos e falou sobre a dificuldade que teria em ensinar ao menino as artes da lavoura e do pastoreio, uma vez que mal andava, devido ao ferimento que sofrera, ao nascer. Com o surgimento dessa criança enjeitada, após consultar sua esposa, ambos ficaram extremamente felizes e passaram a criá-lo.

Somente a Mérope(Μερόπη), sua esposa, confidenciou com ares sigilosos:

— Não pense que estou louco, Mérope. Mas escutei claramente uma voz que me disse: Cuide dele como se fosse seu filho, Pólibo.

Mérope arregalou os olhos, admirada.

— Quem sabe foi a voz de algum deus, Pólibo? Fez muito bem em aceitar o menino. Os médicos da corte saberão curar o defeito de seus pés. Vamos criá-lo e amálo, pois na certa ele nos foi enviado pelos deuses.

Os médicos conseguiram, com exercícios, massagens e aplicação de ervas, fazer com que o menino andasse melhor. Mas não o livraram do apoio de um bastão.

Ambos criaram-no com tantos cuidados e amor que o menino cresceu acreditando ser mesmo filho legítimo dos soberanos de Sícion. Com o tempo, Pólibos acabou chamando-o simplesmente de Édipos, e ensinou-lhe pessoalmente as letras e os conhecimentos que o tornariam, mais tarde, um rapaz culto e com inteligência reconhecida, amado por seus pai e adorado pelo povo, e com um futuro promissor: se tornaria um rei.

Um dia, soube que haviam roubado alguns cavalos de seu pai, que lhe pediu para tentar encontrá-los. Partiu pela estrada, perguntando aqui e ali. As pistas o levaram a Delfos e, estando lá, resolveu consultar o oráculo. A sacerdotisa, mergulhada em transe profundo, falou por entre a fumaça das ervas:

— Você está condenado a matar o próprio pai e unir-se à sua mãe.

Édipos empalideceu. Ficou muito tempo em Delfos, sem coragem para voltar para casa.

— Como pode tal destino estar reservado para mim? Se assim for, jamais voltarei a Corinto, para não correr o risco de assassinar Pólibos e me casar com minha mãe, Mérope.

Foi então que ouviu, pela primeira vez, uma voz que lhe disse:

— Édipos, não creia tanto nos oráculos. Volte para Corinto! Você tem o poder de mudar o seu destino.

Édipos olhou em volta, procurando quem lhe falava. Não viu ninguém. Sacudiu a cabeça e mergulhou novamente em suas dúvidas.

— Não posso voltar para Corinto. Ficarei aqui, até encontrar um mensageiro que possa levar minha decisão a meus pais.

Pouco depois, a voz voltou a dizer:

— Édipos, você pode mudar seu destino. Volte a Corinto e fique por lá. Nada irá acontecer.

Desta vez, Édipos se irritou.

— Acho que estou enlouquecendo! Que voz idiota é esta, que me aconselha justamente o contrário daquilo que sei que tenho que fazer! Espero poder mudar meu futuro, e por isso mesmo não retornarei a Corinto!

No dia seguinte, o esperado mensageiro surgiu e Édipos pediu que avisasse aos pais que partira em uma longa viagem. Com dificuldade, montou em seu cavalo e seguiu seu destino.

Já caminhava há algum tempo, quando viu uma carruagem que se aproximava. Saiu do meio da estrada, para deixar o carro passar, mas, na encruzilhada de Potnias, marco de separação entre Delfos e Dáulis, seu bastão caiu no chão e precisou apanhar.

Desceu com custo, pois sempre lhe era penoso apoiar-se sobre os pés fracos. A carruagem parou e o cocheiro gritou, sacudindo o chicote:

— Saia já da estrada, viajante!

Édipo fez um sinal, pedindo que esperasse um pouco. Curvou-se, apanhou o bastão e tentou montar no cavalo, novamente. Mas seus pés doíam. O cocheiro desceu da boléia e quis afastá-lo, com violência. Encolerizado, Édipos brandiu o bastão e o matou.

O rei Laios, que de dentro do carro a tudo assistira, não pensou duas vezes. Pulou da carruagem, partiu para Édipos e golpeou-o com um aguilão. E atrás dele veio o resto da comitiva, um arauto e dois escravos.

Édipo, alucinado de ódio, abriu a cabeça de Laio com o bastão e liqüidou sua comitiva, menos um escravo, que fugiu, voltou ao castelo e, envergonhado de sua covardia, inventou que a carruagem fora atacada por bandoleiros e pediu que o deixassem nos campos, pastoreando os rebanhos. Cumprira-se então a primeira parte da previsão do Oráculo.

Com a morte de Laio, seu cunhado Creonte, irmão de Jocasta, assmiu o trono de Tebas...

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