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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Capitulo 75: OS FILHOS DE ZEUS, ANFION E ZETOS E A MORTE DE DIRCE!!!

ANFION(Ἀμφίων) E ZETOS(Ζῆθος). Por catandcrown.

O cheiro da morte já se havia impregnado nas mantas e cortinas dos aposentos de Lábdacos(Λάβδακος), cujo nome seu pai, o rei Polidoros(Πολύδωρος), deu-lhe tirando-o da letra lambda do alfabeto grego, tornara-se, então, o seu substituto no poder de Tebas. Licos(Λύκος) parou à porta e hesitou. Um dos médicos fez sinal para que entrasse.

— O rei deseja lhe falar — disse, baixinho.


Licos se aproximou do leito, onde a figura muito pálida e magra do rei desaparecia no meio das cobertas pesadas.

— Licos — disse Labdacos, num fio de voz — chegue bem perto de mim. Quero lhe fazer um pedido. Sei que minha hora chegou e entrego Tebas em suas mãos, assim como meu pai fez com seu irmão Nicteus, enquanto eu ainda era criança, torno-o regente até que meu filho Laios(Λάιος) tenha idade suficiente para assumir o reinado. Licos, meu amigo, eduque meu filho como educou a mim, junto com Nicteus. Prepare-o para que seja um bom rei, valente e digno como deve ser um descendente de Cadmos(Κάδμος).

Licos sentiu as lágrimas queimarem seus olhos e com sacrifício procurou contê-las. Segurou entre as suas as mãos finas e geladas de Labdacos.

— Juro, em nome dos deuses, que cuidarei de Laios e que farei dele um homem de valor, digno de trono de Tebas.

Labdacos sorriu palidamente e Licos sentiu que ele comprimiu ligeiramente suas mãos, por instantes. Mas logo depois, os dedos frios do rei amoleceram e seu rosto tombou para o lado. Licos não conseguiu conter mais o choro, que caiu em cascatas, molhando as cobertas e o sorriso tranqüilo no rosto de Labdacos.

Enquanto isso, as crianças de Antíope(Ἀντιόπη), cresceram no Citéron, perto de Eleutérios, sob os cuidados do bondoso pastor. Ele os alimentou com leite de cabra e mel da montanha, ensinou-os a chamá-lo de “pai” e deu-lhes os nomes de Zetos(Ζῆθος) e Anfion(Ἀμφίων).

No alto da colina, Zetos e Anfíon tornaram-se belos rapazes. Embora fossem gêmeos, não se pareciam, eram completamente diferentes. Zetos cresceu amigo dos esportes violentos, mas tinha grandes habilidades manuais e gostava também da agricultura e da criação de gado. O mesmo, de ombros largos e fortes, tinha a aparência de um herói. Adorava caçar, e nem o mais feroz dos animais o fazia tremer.

Quanto a Anfíon, não revelava dom algum, não era forte como seu irmão, mas tinha tendências musicais. Uma vez, foi visitado pelo deus Hermes(Ἑρμής), que lhe deu uma lira e assim dedicava-se à música com paixão. Por sua vez, tornou-se um menestrel, um poeta. Levava o rebanho para pastar com as notas de sua lira, depois se sentava na encosta da montanha horas sem fim, tocando e cantando. Suas melodias eram tão lindas que comoviam o coração dos pássaros e amansavam a natureza das feras, e até o próprio Apolo(Ἀπόλλων) vinha ouvi-lo tocar. O poder de Anfíon era tão grande que, diziam, podia mover até as pedras a seu redor.

E os pastores achavam graça cada vez que os irmãos discutiam a respeito de suas habilidades tão divergentes. Contudo, sob um aspecto, os gêmeos eram muito semelhantes: ambos tinham bom coração. Amavam-se e sentiam grande afeição pelo pastor que acreditavam ser seu pai. Vinte anos se passaram. Enquanto Zetos e Anfíon tinham se transformado em belos jovens, Antíope continuara enfraquecendo em sua ignóbil prisão, mas fortalecida em espírito pelos deuses justos, que preparavam um destino mais feliz a ela. Quanto a Dirce(Δίρκη), desfrutava os privilégios reais, que pensava serem eternos.

Antíope era obrigada, durante todo esse tempo, a suportar uma dor enorme. O rei Licos era gentil e bondoso com ela, mas sua mulher, Dirce, era malévola e extremamente ciumenta. Com muita freqüência ela deixava sua ira cega recair sobre a infeliz. Assim, uma vez ela lhe arrancou os cabelos com um ferro em brasa, outra vez desferiu-lhe um soco no rosto, e a torturava de maneira mais cruel. A pobre Antíope era obrigada a fiar e a trabalhar como uma escrava, e muitas vezes mal recebia água ou pão para alimentar-se. Por vários dias seguidos ficava encarcerada num porão escuro, com fome e com sede, e era obrigada a dormir sobre a pedra nua.

Mas a roda do tempo afinal dera uma grande volta completa. Zeus(Ζεύς) nunca esquecera que devia ajudar seus filhos e que o trono de Tebas era deles por direito. Passaram-se alguns anos e Antíope, acorrentada às pedras, definhava sem que ninguém a socorresse, com medo de enfrentar a fúria de Dirce. 

Um dia, já sentindo a morte próxima, Antíope pensou em Zeus com todo o calor de sua alma.

— Zeus, meu amado senhor, que me fez mulher e mãe, escute minhas preces. Livre-me dos grilhões que me prendem e aniquilam minha vida e leve-me ao encontro dos filhos que nem cheguei a nutrir.

Do alto do Olimpo, Zeus escutou suas palavras e estendeu as mãos sobre o abismo. E assim, certo dia, as pesadas trancas da porta do calabouço caíram no chão de repente, a porta abriu-se e as correntes soltaram-se de seus pulsos, miraculosamente. Antíope estava livre.

Desnorteada, ela levantou-se, foi até a porta e olhou para fora, assustada. Não se via uma única alma. Isso a encorajou: com a energia que ainda restava a seus membros debilitados e apoiando-se na força que a Esperança lhe dava — a mesma que ficara no fundo da caixa de Pandora —, Antíope fugiu até cair desfalecida.

Hermes, a mando de Zeus, a colheu em seus braços e depositou-a próximo a choupana onde viviam as crianças, no monte Citéron, a choupana de um humilde pastor.

Ao acordar, antíope com muita dificuldade visualizou, a pequena choupana. O pastor estava sozinho na cabana. Ela pediu-lhe ajuda, revelou quem era e contou seus enormes sofrimentos. Logo, Anfíon e Zetos chegaram de uma caçada. Anfíon logo se mostrou disposto a acolher a pobre mulher, pois seu coração sentimental sentia-se inconscientemente atraído por ela.

Zetos, por sua vez, indiferente, primeiro quis expulsá-la, mas por fim seu coração foi amansado, e lhes deram guarida. Porém, o pobre pastor lutou para controlar os sentimentos, pois sabia que a desventurada mãe estava face a face com os filhos perdidos, sem saber quem eram. Mas ele nada disse: há muito tempo fizera uma promessa e devia cumpri-la. E pensou:

— Quem sabe que novas desgraças poderão desabar sobre Tebas, se eu revelar o segredo?

Zetos e Anfíon. cresceram ao lado de sua mãe Antíope, sem nunca saberem da verdade e dos maus tratos por que ela havia passado, na corte de Tebas. Um dia, a rainha Dirce, que ja havia vasculhado todo o reino atrás de Antíope, entrou bruscamente na cabana acompanhada de um bando de mênades; e vociferou ao deparar-se com Antíope:

— Miserável! Os deuses condenaram-na a ter a prisão como lar. Chegou sua hora de morrer!

E apontou para Zetos e Anfíon.

— Vocês, que estão aí parados! Ordeno que essa mulher seja amarrada nos cornos de um touro feroz, e que seja ela estraçalhada! Essa mulher é culpada de crimes hediondos. Eu deveria tê-la mandado matar há muito tempo, em vez de mantê-la na prisão. Ela pensou que podia escapar, mas os deuses trouxeram-me até aqui e colocaram-na em minhas mãos. E também me deram dois bons rapazes como vocês para puni-la como merece.

Os dois rapazes permaneceram imóveis, cabisbaixos.

— Vamos, moleques! Não estão ouvindo o que ordeno? A rainha de Tebas está ordenando. Façam como eu disse! Obedeçam às minhas ordens porque essa é a vontade dos deuses também!

Tristes e relutantes, os gêmeos aproximaram-se da mulher, que não sabiam era sua mãe. Quando tocaram nela, o pastor atirou-se a seus pés gritando:

— Não! Zeus me perdoe! Vocês não sabem a quem irão tirar a vida! É sua mãe, princesa de Tebas!

— Mentira! — Dirce esbravejou.

Em resposta o pastor tirou de um baú o cesto em que os rapazes tinham sido levados para o Citéron. As roupinhas que vestiam ainda estavam lá. Antíope, reconhecendo-as, gritou de emoção:

— Meus filhos!

E correu a abraçá-los, enquanto vociferava Dirce:

— Traição! Meus guardas cuidarão disso!

Mas o velho pastor ainda tinha muita força e agarrou-a pelo braço, apertando-o como um torniquete, enquanto gritava para os rapazes:

— Agora sabem da verdade, e sou eu quem estou mandando! Peguem esta mulher e apliquem nela a punição que ela ordenou para uma inocente: sua mãe!

Só então Anfíon e Zetos compreenderam. A firmeza das palavras de seu suposto pai lhes enchia o coração de uma certeza: quase haviam condenado à Morte uma inocente. Por isso, agarraram Dirce e amarraram-na aos cornos de um touro bravio. E ela foi despedaçada pela fúria do animal.

Depois que a justiça fora feita, o pastor disse-lhes:

— Meus filhos, esta é a última vez que eu os chamo desta forma, porque seu pai não sou eu, lamento dizer. Sua mãe revelará o nome dele, que eu mesmo desconheço. Chegou o momento de voltarem a Tebas, onde o trono de Cadmos os espera. Derrubem do trono o tirano Licos e libertem a cidade desse mal. Esse é o último conselho do pai que todos esses anos vocês acreditaram que eu fosse. E os amei como tal. Tem minha bênção, vão agora. Eu ficarei aqui, porque aqui nasci, aqui me tornei homem, aqui fiquei velho e aqui mesmo desejo morrer.

— Por que não nos contou antes? — perguntou Anfíon, indignado.

E os filhos de Antíope voltaram-se para ela e aguardaram a resposta desejada. E ela, sabendo que não precisaria lhes contar uma história longa para que entendessem os que os esperava, apenas lhes disse:

— Seu pai é Zeus, o Senhor do Olimpo.

— Como pode ocultar tudo isto de nós? — reclamou Zetos.— Por que não falou que somos filhos de Zeus e por que não disse que foi tão maltratada Licos e Dirce?

Antíope abraçou-os com ternura.

— E para quê? Para que crescessem cheios de rancor no coração? Isso já passou. O que importa é que estamos juntos e felizes.

— Felizes? — exclamou Zetos, escapando dos braços da mãe. — Deveríamos estar vivendo no palácio e não numa choupana!

Foi o suficiente. Zetos e Anfíon arrumaram suas coisas.

— Mãe, — acrescentou Anfíon — vamos partir imediatamente para Tebas. Você será vingada!

Antíope não conseguiu reter os filhos. Armaram-se e partiram, levando o ódio em seus corações.

Os gêmeos invadiram Tebas. Licos, depois de seus vinte anos de governo, foi obrigado defender o trono com unhas e dentes, e só não foi morto pelos gêmeos enfurecidos graças à intervenção do deus Hermes, que trazia-lhes uma mensagem do divino pai , Zeus, que ordenava que Licos lhes entregasse o trono voluntariamente.

Então, após abdicar, Licos conseguiu escapar ileso para longe de Tebas. Tal ação inesperada fez com que muitos abandonassem Tebas às pressas, inclusive Laios foi expulso e obrigado a exilar-se para o reino do soberano Pélops, na Élide.

Em seguida, os gêmeos levantaram uma pira e queimaram os restos de Dirce e espalharam suas cinzas sobre a fonte de Ares(Ἄρης). A partir de então, a fonte e o regato, que, mais do que todos os outros, fornecia água pura a Tebas, levaram o nome de Dirce.

Zetos e Anfíon tornaram-se os novos reis de Tebas, e governaram juntos; o primeiro como o protetor da cidade e o segundo para glorificá-la, entoando hinos aos deuses.

Lábdacos morreu levando consigo um segredo: Jamais dissera a ninguém porque proibira o culto de Dionísio(Διονυσος), em Tebas, causa do ataque que sofrera pelas Bacantes e que acabou por encurtar os dias de sua vida.

O motivo foi ter visto, em meio às comemorações festivas e regadas a vinho, Dirce e Dionísio se amarem com loucura, mal escondidos pelas folhagens. Para que Lico não viesse a desconfiar de nada, proibiu os festejos dionisíacos em Tebas.

Quando Dionísio soube que Dirce fora assassinada, jurou vingança. Antíope, não permaneceu em solo tebano. Como ela havia sido a causa da morte de Dirce, que cultuava Dionisos, foi sua vítima. Quando a mesma  aguardava a volta dos filhos, em Sísion, o deus do vinho feriu-a com a loucura.

Antíope saiu como errante por toda a Grécia. Ela andou inconsciente de um lado para outro, até chegar na Fócida, onde o seu herói-epônimo, Fócos, filho de Poseidon, encontrou-a e resolveu ajudá-la. Curou-a de sua insanidade e, depois de um tempo, tomou-a por esposa.

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