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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Capítulo 81: O ENIGMA DA ESFINGE, CUMPRE-SE A MALDIÇÃO DOS LABDÁCIDAS.

 Esfinge(Σφίγξ). Por Genzoman.

Ainda assombrado pela predileção do oráculo, Édipos(Οἰδίπους) prosseguiu em sua viagem e seu destino fez com que procurasse o caminho de Tebas. Já estava próximo à entrada da cidade, quando encontrou um velho e duas cabras. Parou e perguntou:

— Que cidade é aquela, que vejo ao longe?

— É Tebas, senhor. — Respondeu o velho — pretende chegar lá?

— Sim — respondeu o rapaz. — Estou cansado, pois viajo há dias. Meu cavalo e eu precisamos repousar.

O velho coçou a cabeça.

— É melhor procurar outro caminho. Nunca ouviu falar na Esfinge(Σφίγξ)?

Édipos sacudiu a cabeça, cheio de curiosidade.

— Esfinge? Mas o que é isto?

— A Esfinge — esclareceu o ancião — é um monstro terrível, com a cabeça e os seios de mulher, corpo de cão, garras de leão, asas de águia e cauda armada de dardo, e que vem liquidando todos os jovens que tentam entrar na cidade. Oferece a eles um enigma e os que não conseguem decifrá-lo, são devorados. E até hoje, ninguém conseguiu.

Édipos o olhou com desconfiança. O velho parecia maluco. Mesmo assim, perguntou:

— Mas de onde veio esse monstro? Nunca me falaram sobre ele.

O velho sacudiu os ombros.

— Uns dizem que foi Dionísio(Διονυσος) que o colocou ali, furioso com os tebanos que insistem em não deixar seu culto penetrar na cidade; outros afirmam que foi enviado por Hera(Ἥρα), a protetora dos amores legítimos, para castigar o rei Laios(Λάιος) por seus amores proibidos, no passado, por Crísipos(Χρύσιππος); outros asseguram que o responsável pela presença da Esfinge é Hades(Άδης), o deus da morte, sempre desejoso de atrair os jovens aos seus domínios. Há ainda quem diga que foi Ares(Ἄρης) quem trouxe o monstro, ainda furioso com Cadmos(Κάδμος) por ter matado o seu querido dragão. Como vê, meu jovem, todos falam e falam... Mas a verdade é que a Esfinge está lá, na entrada de Tebas, propondo aos moços como você um enigma indecifrável. É melhor que mude seu caminho.

Édipos agradeceu, mas não acreditou no aviso do velho. Esperou até que ele se afastasse e tocou o cavalo em direção à cidade que apontava no horizonte.

Entrou por atalhos, seguiu por trilhas já bem abertas, contornou um monte. O balanço suave do animal que o conduzia fez com que cochilasse. Quando abriu os olhos, viu o monstro, imenso, à sua frente. Sentiu que não poderia mais recuar. A voz da Esfinge fez com que seu cavalo empinasse e o jogasse no chão. Ergueu-se com dificuldade, apoiado em seu bastão, enquanto ouvia da Esfinge o enigma fatal:

— Diga-me, jovem, qual é o ser que, ao amanhecer anda sobre a terra com quatro pés... ao entardecer com dois pés... ao anoitecer com três pés. E possui um só nome? Sem mudar de natureza ele pode se mover na terra, no ar ou no mar. E que, contrariando a Natureza, quando se apóia em maior número de pernas, sua destreza é menor e a rapidez se enfraquece em seus membros?

Édipos pensou rapidamente e respondeu a primeira coisa que lhe passou pela cabeça.

— É o homem, que ao amanhecer é a criança e engatinha, ao entardecer é a fase adulta, quando usamos ambas as pernas e o anoitecer é a velhice, pois caminhamos apoiados em uma bengala curvados com o peso da idade..

Em resposta ao enigma, o urro da Esfinge sacudiu a cidade toda.

— Muito bem, meu jovem, chamo-me Fix, vim das terras distantes do Egito, sou filha do cão Ortros(Ὄρθρος) e minha mãe é a Équidna(Έχιδνα). Hera enviou-me contra os Tebanos por causa da morte de Crísipos, agora devo cumprir o meu destino, assim como você cumprirá o seu.

Dizendo estas ultimas palavras, a Esfinge se mata jogando-se de um rochedo. Édipos entrou em Tebas aclamado pelo povo e imediatamnete foi levado à presença de Creonte(Κρέων), que o recebeu com efusiva alegria.

— Meu rapaz, nosso povo o agradece, emocionado. Livrou Tebas de um pesadelo que dizimava nossos jovens, sem piedade. Quem é você e de onde vem?

— Sou Édipos, filho de Pólibos(Πόλυβος) e Mérope(Μερόπη), reis de Corinto.

— Édipos, de Corinto! — disse Creonte, exultante. — Nossa alegria é ainda maior. Prometi a mão de minha irmã, Jocasta(Ἰοκάστη), rainha de Tebas, àquele que destruísse a Esfinge. Será excelente aproximar Tebas e Corinto, através de sua união com Jocasta. O que me diz disto, Édipos? Aceita?

Édipos pensou e resolveu aceitar. Seu pai, Pólibos, certamente ficaria satisfeito com a união dos dois reinos.

— Sinto-me honrado com seu oferecimento, Creonte, e é com imensa satisfação que recebo sua irmã, Jocasta, em casamento.

A festa foi simples, no salão principal do castelo. A morte de Laios era recente e Jocasta não aceitou as pompas que permeiam os casamentos reais. Quem mais festejou foi o povo que, em volta do palácio, consagrou com cantos, danças e bebidas a posse do trono de Tebas pelo seu mais recente e querido herói.

Édipos mal tivera tempo de conhecer Jocasta. Desde o momento em que a pedira em casamento, ela estivera ocupada demais com os preparativos da cerimônia e nem tivera tempo para devotar ao noivo maior atenção. Creonte aproveitou para levá-lo para conhecer todo o reino.

Houve um momento, durante a festa, em que Édipos ficou só e, de longe, enquanto bebia do vinho delicioso que os escanções serviam a cada instante, ficou a observar Jocasta.

— Melhor que seja assim — pensou. — Agora estou certo de que consegui mudar meu destino.

Imediatamente a voz falou em algum lugar de sua mente:

— É preciso que compreenda que todas as ações do homem refletem um impulso interior. Zeus(Ζεύς) condenou os homens a só encontrarem sua contraparte fora de si mesmos. Procure olhar para dentro e encontrar-se em você, no mais íntimo de seu ser.

Édipos quase engasgou com o vinho.

— Mas afinal, quem é você que me fala?

Silêncio.

— Por que se mete onde não é chamado? Deveria antes ter, me auxiliado a decifrar o enigma da Esfinge, mas, justamente naquele momento, se manteve calado.

A voz não tornou a falar. Édipos olhou em volta, com medo de estar sendo observado.

— Acho que estou ficando bêbado... — e empurrou a taça para o lado. 

Creonte se aproximou e segurou-o pelo braço.

— Venha, Édipos, os convidados reclamam sua presença.

Jocasta já o esperava em seus aposentos, os cabelos soltos caindo sobre a veste muito fina que revelava os contornos bem feitos de seu corpo.

— Como é linda! — pensou Édipos, enquanto apreciava os movimentos lânguidos da rainha.

— "Procure a mulher em seu interior" — disse a voz, subitamente.

Ele se sobressaltou e chegou mais perto da rainha.

— O que foi, Édipos? — perguntou Jocasta, sorrindo. — Parece assustado. Ele procurou sorrir. Não poderia falar a ela sobre a voz que lhe dizia coisas que não conseguia entender.

— Sua beleza é inebriante, Jocasta — disse ele, procurando justificar seu nervosismo. — Tudo aconteceu tão rapidamente que nem tive tempo de acostumar-me à ideia de tê-la como minha esposa e todo este reino. — Afagou-lhe os cabelos longos e macios. — Espero ser digno de seu amor e do trono de Tebas.

Jocasta pousou as mãos delicadas sobre os ombros do rapaz e olhou-o dentro dos olhos.

— Você é muito jovem, mas parece forte e decidido. Estou certa de que foi enviado pelos deuses e reinará sabiamente.

O perfume suave de Jocasta invadiu os sentidos de Édipos e uma onda quente se instalou em seus quadris. Por instantes as palavras que a voz lhe dissera voltaram à sua mente: "Procure a mulher dentro de si".

— Como poderei procurá-la em mim — pensou — se a tenho em meus braços, com os olhos ávidos de amor pregados aos meus?

Havia mesmo uma luz diferente nos olhos de Jocasta. A juventude de Édipos a impressionara desde o início. Quando viu pela primeira vez aquele rapaz de semblante triste, caminhando com dificuldade apoiado a um bastão, uma ternura indescritível apertou seu peito e ela teve vontade de aconchegá-lo entre os braços. E agora, ao tocálo, sentia que toda a energia do moço invadia seu ser, enchendo-o de uma vitalidade quente e vibrante.

— Ele é tão jovem — pensou. — Seus olhos têm o brilho da força e a indecisão da inexperiência — sorriu levemente. — Sinto que nunca teve uma mulher em seus braços.

Abraçou-lhe a nuca e puxou-o para perto. Seu hálito quente envolveu o rosto do rapaz e ele beijou de leve sua boca. Sentiu os lábios de Jocasta entreabrirem-se sob os seus, comprimindo-os com força.

— "Introjete suas sensações e desperte a mulher em seu interior" — sussurrou a voz.

Mas ele não a escutou. Deixou-se conduzir ao leito e, quando ela o guiou para dentro de si, sentiu que entrava num mundo novo, onde todas as sensações lhe davam um prazer intenso, jamais sentido antes em momento algum de sua vida.

Cumpria-se assim a "Maldição dos Labdácidas"...

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