Antíope(Ἀντιόπη). Por Alayna. |
Recém-chegados a Tebas, onde o rei Penteus os acolheu e lhes deu residência fixa, Licos(Λύκος) e Nicteus(Νυκτεύς) foram testemunhas da vingança de Dionísio(Διονυσος) contra Agave(Αγαυη) e do triste fim de Penteu(Πενθεύς). No entanto, antes de sua morte, o soberano deu-lhes cargos no seu governo, e a Licos, especialmente, o de polemarca, comandante geral das suas forças armadas.
Depois que Agave fugiu para a Ilíria, ao encontro de Cadmos(Κάδμος) e Harmonia(Ἁρμονία), seu irmão Polidoros(Πολύδωρος), o antecessor, ainda vivia e assumiu o trono de Tebas novamente. Logo depois, porém, foi ferido numa batalha e, estando em seu leito de morte, confiou o reino a seu jovem filho Lábdacos, no entanto como o mesmo ainda tinha apenas um ano de idade, o trono foi ocupado interinamente por Nicteus. Este passou a governar como regente, até que chegasse o dia em que Lábdacos pudesse reinar.
Nicteus cortejou uma mulher do povo que, orgulhosa do amor do rei interino, logo cedeu ao seu amor.
— Sabem, — dizia ela às amigas cheias de inveja — Nicteus, além de rei, é neto de Poseidon(Ποσειδῶν), e da ninfa Alcione(Ἁλκυόνη), e filho de outra ninfa, Clônia(Κλώνια), com o pastor Hirieus(Υριεύς), que recebeu em sua casa a visita do próprio Zeus(Ζεύς). — E, orgulhosa, esfregava a mão no ventre estufado. — Espero o filho de um rei e descendente dos deuses!
Mas ela não chegou a viver para conhecer seu bebê. As Moiras(Μοῖραι) já haviam traçado seu destino e, depois de longo sofrimento, ela morreu de parto.
Nicteus recebeu a filha recém-nascida, levou-a para o castelo e lhe deu o nome de Antíope(Ἀντιόπη). Antíope cresceu e se tornou uma jovem de beleza extraordinária, e Nicteus cuidava de sua segurança com um zelo desvairado.
Epopeus, que reinava em Mecone (a futura Sícion), na Acaia, também ouvira falar de sua beleza, e foi cortejá-la. Porém, tão desumano era Nicteus, irmão de Licos, o rei de Tebas, que recusara a mão de Antíope a Epopeus, simplesmente porque queria mantê-la consigo para confortá-lo na velhice. Por isso, manteve-a sob seu controle, apenas admitindo que suas ancilas a ela se aproximassem.
A beleza de Antíope era tamanha que, no dia em que ela foi vista por Zeus, o mesmo se apaixonou por ela; e foi procurá-la, e para que não levantasse as suspeitas de sua esposa Hera(Ἥρα), disfarçou-se de sátiro. Atiçada pela curiosidade pela presença de tão estranho ser Antíope se entregou a Zeus, que a amou em segredo, perito na arte de colecionar amantes. Mas pouco durou o sigilo, pois logo Antíope descobriu que ia ser mãe.
Assim que sentiu um bebê mexer-se em seu ventre, Antíope tremeu de medo pensando na cólera do pai, sempre atemorizante quando ficava irado. E tomou uma decisão, a moça fugiu de casa.
— Epopeus é o único a quem posso confiar. Ele entenderá e me dará proteção.
Por isso, com medo de que a criança morresse, preferiu fugir de Tebas e foi para junto de Epopeus, filho do famoso rei árcade Aloeus(Αλωευς), de Tégea. Esse rei ocupava o trono de Mecone, ou por ele chamada de Épopos, por ocasião da morte de Bunos(βουνος), o antigo rei de Éfira (futura Corintos), e reuniu ambas cidades em seu poder. Portanto, Epopeus recebeu-a com grande alegria, aceitou a gravidez por obra divina de sua amada e deu-lhe um lar. Antíope se sentia segura em suas mãos, e com ele se casou.
Seu pai, enfurecido, invadiu com um exército as terras de Epopeus. Houve um combate sangrento, e tanto Nicteus como o raptor foram feridos, mais ainda Nicteus que passou a ter sua saúde fragilizada pela gravidade de seus ferimentos. E os tebanos foram obrigados a voltar para sua cidade com o rei moribundo, deixando a vitória a Epopeus.
Alucinado pelo ato indigno da filha, Nicteus se suicidou. Licos, “o lobo”, ante o cadáver do irmão, jurou que havia de encontrar Antíope e trazê-la de volta e punir seu protetor. Bem como decidiu assumir as rédeas de Tebas até que o pequeno Laios(Λάιος) atingisse a maioridade.
O jovem casal de Mecone mal começara a desfrutar a alegria de sua união, quando um mensageiro chegou correndo ao palácio e disse ofegante:
— É o exército de Tebas de novo, desta vez com o rei Licos à frente. Eu soube que Nicteus tirou a própria vida, e Licos, passando pelo istmo, se aproxima a fim de vingar a morte do irmão!
Epopeus aprontou-se imediatamente para enfrentar o rei de Tebas. Antíope, em lágrimas, tentou dissuadi-lo, insistindo que, em vez disso, ele a devolvesse:
— Prefiro ser separada de você, meu amado, e saber que está vivo, a lamentar sua morte!
Ignorando as súplicas de Antíope, Epopeus desafiou Licos para um duelo e foi de encontro à Morte. Licos atacou Mecone. Foi uma batalha duradoura, e só pareceu acabar com a morte de seu rei, Epopeus. E, às pressas, subiu ao trono seu sucessor, Lámedon, que resolveu entregar Antíope aos tebanos voluntariamente. Então, Licos levou-a de volta para Tebas e fê-la sua esposa.
Mas, logo que Licos começou a perceber a evolução da gravidez de Antíope, interessou-se por outra moça, Dirce(Δίρκη), filha do deus-rio Áquelous, e começou a ignorar Antíope. E desposou Dirce. Esta, mulher muito má, aproveitando desse momento de fraqueza, começou a maltratar Antíope e cheio de ódio, propôs ao rei:
— Ouve, Licos, ninguém deve saber que Antíope está esperando um filho, caso contrário não estaremos seguros de manter o trono de Tebas nas mãos de nossa família.
— E o que poderemos fazer?
— Deixe-a comigo. Eu sei o que fazer.
— Dirce, espero que você não...
A malvada mulher interrompeu-o pondo seu dedo nos lábios de Licos, e disse-lhe doce e cinicamente:
— Confie em mim...
Dirce trancou Antíope num úmido e sombrio calabouço, onde, onde a ela não poderia ter acesso quem quer que fosse, deus ou mortal, e a malvada rainha apenas tratava de alimentá-la e acompanhar a sua gravidez. Certamente pretendia matar a criança de Antíope assim que nascesse.
Algum tempo depois, na prisão, Antíope deu à luz não um filho de Zeus, mas dois, dois gêmeos.
A rainha de Tebas, ao saber do nascimento das crianças, correu para conferir e arrancou dos braços da mãe os filhos recém-nascidos e escondeu-as dentro de um cesto, enquanto implorava piedade aos gritos e lágrimas da mãe desesperada. Em seguida, Dirce ordenou ao seu servo mais fiel:
— Pegue estas crianças, e deixe os meninos nas montanhas, sobe o monte Citéron, na encosta mais selvagem e deserta que encontrares. Não estou mandando matá-las: os deuses decidirão se devem viver. Não quero carregar a culpa de tal crime.
Essas palavras, naturalmente, eram pura hipocrisia. Dirce sabia muito bem que, expostos na encosta da montanha, os bebês não demorariam muito a morrer — isso se, antes, não fossem devorados pelos lobos.
Tendo se livrado das crianças, ela ordenou que outro servo prendesse Antíope com correntes e pusesse duas trancas na porta da cela para que ela jamais escapasse.
Contudo, Zeus não abandonaria seus filhos. Apesar do servo de Dirce ser o seu mais fiel servidor, o Senhor do Olimpo verteu o espírito da justiça e da clemência no espírito odioso daquele homem. Seus olhos abriram-se para a crueldade da soberana, e ele rendeu-se à piedade pelos indefesos bebês. Então, no alto do monte Citéron, no lado ático, que ficava entre Ênoe e Eleutérios, encontrou um bondoso pastor e confessou-lhe a ordem que recebera. O pastor teve pena dos meninos e concordou, de boa vontade, em ficar com eles e dar-lhes proteção e criá-los como seus.
E disse-lhe o servo tebano:
— Agora estou com a consciência tranqüila, pois tenho certeza de estar deixando estas indefesas criaturas nas mãos de um homem bom e honesto. Eles são filhos de Antíope, filha do rei Nicteus e esposa do rei Epopeus, de Mecone, e ambos foram encontrar-se com Hades.
— E onde se encontra a mãe destas crianças?
— Eu não devia te contar, pois nunca abri minha boca para falar das injustiças que vi, mas esta última foi insuportável. Antíope está trancada num calabouço e não lhe é permitido sequer ver a luz do dia, embora não tenha feito nada para merecer tal punição. O pior de tudo é que os filhos foram arrancados de seus braços e ela pensa que os perdeu para sempre. Eu o suplico, bondoso pastor, para minha segurança, que guarde segredo. Tudo o que contei deve ficar só entre nós. Prometa-me que essas crianças nunca saberão quem é sua mãe.
O pastor prometeu, o servo retornou a Tebas dizendo à rainha que suas ordens haviam sido cumpridas e que àquela hora os bebês já deviam ter sido devorados pelos lobos selvagens. Dirce ficou satisfeitíssima.
Enquanto isso, no alto do Citéron, uma fonte surgiu milagrosamente no lugar onde as crianças se encontravam, e o bondoso pastor deu-lhes ali o seu primeiro banho.
Alucinado pelo ato indigno da filha, Nicteus se suicidou. Licos, “o lobo”, ante o cadáver do irmão, jurou que havia de encontrar Antíope e trazê-la de volta e punir seu protetor. Bem como decidiu assumir as rédeas de Tebas até que o pequeno Laios(Λάιος) atingisse a maioridade.
O jovem casal de Mecone mal começara a desfrutar a alegria de sua união, quando um mensageiro chegou correndo ao palácio e disse ofegante:
— É o exército de Tebas de novo, desta vez com o rei Licos à frente. Eu soube que Nicteus tirou a própria vida, e Licos, passando pelo istmo, se aproxima a fim de vingar a morte do irmão!
Epopeus aprontou-se imediatamente para enfrentar o rei de Tebas. Antíope, em lágrimas, tentou dissuadi-lo, insistindo que, em vez disso, ele a devolvesse:
— Prefiro ser separada de você, meu amado, e saber que está vivo, a lamentar sua morte!
Ignorando as súplicas de Antíope, Epopeus desafiou Licos para um duelo e foi de encontro à Morte. Licos atacou Mecone. Foi uma batalha duradoura, e só pareceu acabar com a morte de seu rei, Epopeus. E, às pressas, subiu ao trono seu sucessor, Lámedon, que resolveu entregar Antíope aos tebanos voluntariamente. Então, Licos levou-a de volta para Tebas e fê-la sua esposa.
Mas, logo que Licos começou a perceber a evolução da gravidez de Antíope, interessou-se por outra moça, Dirce(Δίρκη), filha do deus-rio Áquelous, e começou a ignorar Antíope. E desposou Dirce. Esta, mulher muito má, aproveitando desse momento de fraqueza, começou a maltratar Antíope e cheio de ódio, propôs ao rei:
— Ouve, Licos, ninguém deve saber que Antíope está esperando um filho, caso contrário não estaremos seguros de manter o trono de Tebas nas mãos de nossa família.
— E o que poderemos fazer?
— Deixe-a comigo. Eu sei o que fazer.
— Dirce, espero que você não...
A malvada mulher interrompeu-o pondo seu dedo nos lábios de Licos, e disse-lhe doce e cinicamente:
— Confie em mim...
Dirce trancou Antíope num úmido e sombrio calabouço, onde, onde a ela não poderia ter acesso quem quer que fosse, deus ou mortal, e a malvada rainha apenas tratava de alimentá-la e acompanhar a sua gravidez. Certamente pretendia matar a criança de Antíope assim que nascesse.
Algum tempo depois, na prisão, Antíope deu à luz não um filho de Zeus, mas dois, dois gêmeos.
A rainha de Tebas, ao saber do nascimento das crianças, correu para conferir e arrancou dos braços da mãe os filhos recém-nascidos e escondeu-as dentro de um cesto, enquanto implorava piedade aos gritos e lágrimas da mãe desesperada. Em seguida, Dirce ordenou ao seu servo mais fiel:
— Pegue estas crianças, e deixe os meninos nas montanhas, sobe o monte Citéron, na encosta mais selvagem e deserta que encontrares. Não estou mandando matá-las: os deuses decidirão se devem viver. Não quero carregar a culpa de tal crime.
Essas palavras, naturalmente, eram pura hipocrisia. Dirce sabia muito bem que, expostos na encosta da montanha, os bebês não demorariam muito a morrer — isso se, antes, não fossem devorados pelos lobos.
Tendo se livrado das crianças, ela ordenou que outro servo prendesse Antíope com correntes e pusesse duas trancas na porta da cela para que ela jamais escapasse.
Contudo, Zeus não abandonaria seus filhos. Apesar do servo de Dirce ser o seu mais fiel servidor, o Senhor do Olimpo verteu o espírito da justiça e da clemência no espírito odioso daquele homem. Seus olhos abriram-se para a crueldade da soberana, e ele rendeu-se à piedade pelos indefesos bebês. Então, no alto do monte Citéron, no lado ático, que ficava entre Ênoe e Eleutérios, encontrou um bondoso pastor e confessou-lhe a ordem que recebera. O pastor teve pena dos meninos e concordou, de boa vontade, em ficar com eles e dar-lhes proteção e criá-los como seus.
E disse-lhe o servo tebano:
— Agora estou com a consciência tranqüila, pois tenho certeza de estar deixando estas indefesas criaturas nas mãos de um homem bom e honesto. Eles são filhos de Antíope, filha do rei Nicteus e esposa do rei Epopeus, de Mecone, e ambos foram encontrar-se com Hades.
— E onde se encontra a mãe destas crianças?
— Eu não devia te contar, pois nunca abri minha boca para falar das injustiças que vi, mas esta última foi insuportável. Antíope está trancada num calabouço e não lhe é permitido sequer ver a luz do dia, embora não tenha feito nada para merecer tal punição. O pior de tudo é que os filhos foram arrancados de seus braços e ela pensa que os perdeu para sempre. Eu o suplico, bondoso pastor, para minha segurança, que guarde segredo. Tudo o que contei deve ficar só entre nós. Prometa-me que essas crianças nunca saberão quem é sua mãe.
O pastor prometeu, o servo retornou a Tebas dizendo à rainha que suas ordens haviam sido cumpridas e que àquela hora os bebês já deviam ter sido devorados pelos lobos selvagens. Dirce ficou satisfeitíssima.
Enquanto isso, no alto do Citéron, uma fonte surgiu milagrosamente no lugar onde as crianças se encontravam, e o bondoso pastor deu-lhes ali o seu primeiro banho.
Enquanto isso, Antíope era mantida prisioneira no castelo, por exigência de Dirce, esposa de Licos, ciumenta da beleza extraordinária da moça. Antíope era obrigada, durante todo esse tempo, a suportar uma dor enorme. O rei Licos era gentil e bondoso com ela, mas sua mulher, Dirce, era malévola e extremamente ciumenta. Com muita freqüência ela deixava sua ira cega recair sobre a infeliz. Assim, uma vez ela lhe arrancou os cabelos com um ferro em brasa, outra vez desferiu-lhe um soco no rosto, e a torturava de maneira mais cruel. A pobre Antíope era obrigada a fiar e a trabalhar como uma escrava, e muitas vezes mal recebia água ou pão para alimentar-se. Por vários dias seguidos ficava encarcerada num porão escuro, com fome e com sede, e era obrigada a dormir sobre a pedra nua.
Mas a roda do tempo afinal dera uma grande volta completa. Zeus(Ζεύς) nunca esquecera que devia ajudar seus filhos e que o trono de Tebas era deles por direito. Passaram-se alguns anos e Antíope, acorrentada às pedras, definhava sem que ninguém a socorresse, com medo de enfrentar a fúria de Dirce.
Mas a roda do tempo afinal dera uma grande volta completa. Zeus(Ζεύς) nunca esquecera que devia ajudar seus filhos e que o trono de Tebas era deles por direito. Passaram-se alguns anos e Antíope, acorrentada às pedras, definhava sem que ninguém a socorresse, com medo de enfrentar a fúria de Dirce.
Um dia, já sentindo a morte próxima, Antíope pensou em Zeus com todo o calor de sua alma.
— Zeus, meu amado senhor, que me fez mulher e mãe, escute minhas preces. Livre-me dos grilhões que me prendem e aniquilam minha vida e leve-me ao encontro dos filhos que nem cheguei a nutrir.
Do alto do Olimpo, Zeus escutou suas palavras e estendeu as mãos sobre o abismo. As correntes que prendiam Antíope romperam-se miraculosamente e Hermes a colheu em seus braços e depositou-a próximo a choupana onde viviam as crianças.
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