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domingo, 10 de novembro de 2013

Capítulo 70: A MORTE DE ERICTÔNIO, SUA DESCENDÊCIA PANDION E O RAPTO DE ORÍTIA

Boreas(Βορέας) e Oritia(Ὠρείθυια). Por AnekaShu.

Quando Erictônio(Ἐριχθόνιος) cresceu, se tornou rei da então Atenas e casou-se com a náiade Praxitéia(Πραξιθέα), após destronar Anfictião(Ἀμφικτυών), uma das primeiras coisas que fez, logo depois que Agraulos(Άγραυλος), sua ama, morreu, foi satisfazer o desejo de Athena(Ἀθάνα) de honrá-la como deusa; mas, associando no seu reconhecimento a filha de Cécrope(Κέκροπας) e a deusa que o havia protegido, elevou um templo em duas partes, uma das quais foi dedicada a Athena e outra a Agraulos. Tal construção, séculos depois, seria queimada pelos persas, como todos os monumentos de Atenas.

Com a ajuda de Athena, Erictônio construiu o primeiro carro puxado a cavalo, que Poseidon(Ποσειδῶν) havia feito surgir e Athena domado, descobriu um modo para refinar a prata e cunhou a primeira moeda.

Quando chegou enfim o momento de deixar o mundo dos vivos, Erictônio, então, foi-se juntar aos Astros, formando parte da Constelação do Boieiro. Por isso, subiu ao trono seu filho e sucessor Pandion(Πανδίων). Era um homem rico, possuía muitos vinhedos, plantações de oliveiras e culturas de trigo. Este casou-se com uma bela náiade, Zêuxipe(Ζευξίππη), irmã de sua mãe, que lhe deu dois filhos gêmeos, Erecteus(Ἐρεχθεύς) e Butes(Βούτης), assim como, anos depois, de duas filhas, Procne(Πρόκνη) e Filomele(Φιλομήλα).

Erecteus desposou Praxitéia, filha de Frásimos(Φρασιμος) e Diogênia(Διογενεια), ambos do povo ateniense, que haviam dado aquele nome à filha em homenagem à esposa do rei Erictônio. A primeira filha de Erecteus, Oritia(Ὠρείθυια), foi raptada por Boreas(Βορέας).

Havia uma raça imortal pertencente à casta dos Titãs, que morava nas ilhas Eólias, entre a Itália e a Sicília, e tinham Éolos(Αἴολος), filho de Hípotes(Ἱππότης), como rei. Eram os Anemoi, os Ventos, e chamavam-se Lips(λιψ), Zéfiros(Ζέφυρος), Euros(Ευρος), Notos(Νότος), Córos (Κόρος), Apeliotes(Aπελιοτεσ), Cécias(Καικιας) e Bóreas. Cada um deles representava e presidia uma região da Terra e seu clima, árido ou úmido, sereno ou tempestuoso, quente ou frio. E suas funções eram controladas por Éolos — pai de seis filhos e seis filhas —, conforme o consentimento e a vontade dos deuses do Olimpo.

Naquele tempo, quando o gelado Vento Norte soprava com rajadas fortes, as pessoas diziam que decerto algum mortal havia novamente irritado Bóreas, o deus alto e de longas asas que morava em um castelo branco no alto das montanhas da Trácia.

O castelo de Bóreas era majestoso e imponente. O deus vivia o tempo todo lá dentro. Mas quando ficava irritado, ele saía de seu palácio de gelo e, levado por suas poderosas asas, sobrevoava as casas dos homens provocando nevascas, tempestades e tormentas de neve à sua passagem. Bóreas, porém, nem sempre estava irritado e violento. Ele também era sossegado e paciente.

O tempestuoso Bóreas deu demonstração de sua paciência quando Erecteus, rei de Atenas, prometeu que lhe daria a mão de sua filha Orítia como esposa. A verdade é que Erecteus não ficou muito feliz em dar sua palavra porque ele não queria que sua filha se casasse. Ele já havia encontrado marido para suas filhas Prócris(Πρόκρις) e Creúsa(Κρέουσα), mas queria que Orítia vivesse solteira, sempre ao seu lado. Assim, Erecteus jamais consentia que jovem algum visse Orítia. Nem sequer permitia que ela saísse do palácio. Por isso, da janela de seu quarto, Orítia viu apenas o céu e nada mais. Era quase certo que ela jamais se casaria e que viveria para sempre ao lado do pai e quem amava profundamente.

Numa certa tarde de verão, quando Orítia abriu a janela para entrar um pouco de ar, um gostoso ventinho acariciou-lhe o rosto e brincou com seus cabelos dourados. Orítia respirou o ar puro e seu belo rosto sorriu para o céu.

Exatamente naquele momento, Bóreas passou voando pela janela e viu a princesa suspirando. Imediatamente, o deus alado apaixonou-se e foi afagar seu rosto e agitar seus cabelos sedosos, e, sem perder tempo, foi até Erecteus pedir-lhe a mão da filha em casamento. Bóreas queria levá-la para viver no palácio de gelo.

Era difícil para um mortal recusar a mão de sua filha a um deus, mesmo quando esse mortal era um rei. E era mil vezes dizer não a Bóreas. Isso porque ninguém resistiria à fúria daquele que comandava os Ventos mais violentos, e caso o rei negasse o pedido, a desgraça poderia cair-lhe sobre a cabeça.

Erecteus ficou com medo de proferir uma resposta negativa. Por outro lado, ele não queria que a filha fosse embora. Por fim, fingindo-se de contente, respondeu:

— Terei imenso prazer em dar a mão de minha filha, Bóreas, e estou muito honrado pelo fato de você ter vindo à minha presença. Entretanto, peço que me dê algum tempo para que Orítia pense no assunto. Afinal, minha filha está acostumada a viver sozinha com os pais... e eu não sei como ela vai reagir ao pedido.

— Fico contente que concorde, ó rei. Embora eu preferisse levar a princesa comigo agora, dou o tempo que pediu. Voltarei dentro de um mês.

Depois de um mês, Bóreas voltou.

— Tudo vai indo muito bem, ó deus. Eu já convenci minha filha, mas agora ela precisa de mais um pouco de tempo para preparar-se. Não fica bem ir embora de casa, assim de uma hora para a outra. Você me entende, não?

Para dizer a verdade, Bóreas não entendeu. Entretanto, resolveu ter paciência e esperou mais um mês.

Quando Bóreas retornou ao palácio, Erecteus disse:

— Está tudo pronto. Eu já a preparei para a viagem, e pode levá-la imediatamente. Mas acontece que a mãe dela ficou doente, e Orítia morreria de tristeza se tivesse de ir embora, deixando a mãe nesse estado. Você compreende a minha situação, não compreende?

Bóreas não compreendeu coisa nenhuma e começou a suspeitar que havia alguma coisa errada. Contudo, mais uma vez concordou e foi embora sem levar Orítia. Quando Erecteus viu que Bóreas era compreensivo, ficou mais confiante. Mas confiante demais. Portanto, quando o deus voltou, o rei lhe disse mais uma vez:

— Olha, nós conversamos longamente a respeito do assunto e, como já disse antes, nada há que impeça o casamento. Ao contrário, considero uma grande honra que você se case com minha filha. Porém, venho pensando muito a respeito e gostaria de dizer algo para seu próprio bem. A verdade é que você está apaixonado por uma princesa jovem demais. Não acha que seria melhor esperar que ela crescesse mais? Assim seria mais fácil que ela se adaptasse melhor à situação de esposa, companheira e mãe de seus filhos. Volte daqui um ano ou dois, e tornaremos a conversar. Não vai me dizer que durante esse tempo encontrará outra jovem e se esquecerá de Orítia, hein?

Feliz da vida, achando que o convencia, deu-lhe umas palmadinhas nas costas. Só então Bóreas se percebeu de tudo o que estava acontecendo. Era claro como a luz do dia... Erecteus não pretendia entregar-lhe a filha, e o pedido de que esperasse mais tempo era apenas uma armadilha.

Apesar de sentir-se terrivelmente indignado, o deus do Norte controlou-se e não permitiu que a menor expressão mostrasse em seu rosto o que estava sentindo no coração imortal.

— Muito bem, eu voltarei daqui uns tempos!

Com a alma fervendo de raiva, Bóreas foi embora, e subiu bem alto, até as nuvens. Erecteus o havia insultado, e o deus não suportava a idéia de perder Orítia.

— O que Erecteus pensa que eu sou? A culpa é toda minha porque perdi tempo ouvindo todas as desculpas que ele me apresentava. Sou capaz de erguer a tempestade que arranca pelas raízes carvalhos de cem anos, que esmaga altíssimos ciprestes; eu que transformo as ondas do mar em verdadeiras montanhas; eu que posso dobrar a Terra à minha vontade, fazendo cair neve mansa ou verdadeiros ciclones, que transformo água em pedra! Eu, de cuja fúria todos os homens morrem de medo... eu fui humilhado por Erecteus! E como se isso não bastasse, continuo de mãos cruzadas, implorando-lhe favores como se eu fosse um mortal comum! Nunca! Eu e ninguém mais é quem vou resolver isto! Pois bem, tomarei Orítia à força, e ela será a minha esposa!

Ditas essas palavras, Bóreas bateu com força suas gigantescas asas. No mesmo instante, uma violenta tempestade de neve caiu sobre a Terra, e uivando como um louco, o Vento Norte provocou uma devastação à sua passagem. Com uma fortíssima rajada, o vento atingiu o palácio de Erecteus e abriu-lhe todas as portas. E no meio da ventania estava Bóreas com uma força que não havia quem o conseguisse segurar. Assim, envolvendo Orítia em seus braços, como uma águia, carregou-a direto para o céu.

Pouco depois, o vento serenou, e a Terra voltou à paz. A fúria de Bóreas transformou-se em amor, e o poderoso deus protegia sua querida em um terno abraço enquanto voavam para a longínqua Trácia.

Houve uma maravilhosa festa de casamento e, assim, Orítia tornou-se a senhora do palácio de gelo que pertencia ao mais poderoso deus dos Ventos. Com o tempo, ela teve vários filhos, entre os quais Hémos(Αἷμος), que reinou sobre a Trácia, Zetes(Ζήτης) e Cálais(καλές), e ainda duas filhas, Cleópatra(Κλεοπάτρα), Quíone(Χιόνη), a Neve. Os gêmeos Zetes e Cálais, que eram jovens alados, rápidos como o vento, haveriam de se tornar, no futuro, os mais célebres de seus filhos.

Quíone apaixonou-se por Poseidon e lhe deu um filho, Eumolpos(Εύμολπος). Temendo a fúria do pai, jogou o recém-nascido ao mar. Poseidon o recolheu e levou-o para a Etiópia, entregando-o aos cuidados de sua filha Bentesícime(Βενθεσικύμη).

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