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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Capítulo 44: O MEDO DE EROS E A FRUSTRAÇÃO DE ZEUS

EROS (Ἔρως). Por Reapersun.

Afrodite(Ἀφροδίτ) retornou ao Olimpo. Os deuses ocupados com tantos novos acontecimentos surgidos depois do dilúvio, já nem se lembravam de sua aventura com Ares(Ἄρης). Aliás, preocupavam-se mesmo era com Ares e Deméter(Δήμητρα). 


Com Ares porque o belicoso deus de caráter inconstante, já partira, acompanhado por Fobos(φόβος), Deimos(Δεῖμος), e Éris(Ερις), para a planície de Ílion, onde fomentava duras batalhas. Athena(Ἀθάνα), porém, justa e atenta, sempre segurava o braço potente do formidável guerreiro antes que ele desferisse nos humanos seus golpes fatais.

Deméter, nos períodos em que a filha estava no Hades(Άδης), sempre inspirava cuidados aos deuses, pois sua dor era tanta que poderia destruir o mundo pela fome, em quatro ressecados meses.

Desta maneira, Afrodite se sentiu aliviada e mais disposta a passear pelas florestas do Olimpo. Seu carinho por Eros(Ἔρως) aumentava a cada instante. Para ela, o jovem deus era o filho que sempre sonhara ter.

Seja como for, Eros era o espanto dos homens e dos deuses. Zeus, prevendo os males que ele causaria, até mesmo guerras por ele causadas, quis obrigar Afrodite a desfazer-se dele. Para furtá-lo à cólera do senhor do Olimpo, viu-se Afrodite obrigada a ocultá-lo nos bosques, onde ele sugou o leite de animais ferozes. Mas logo voltou ao convívio dos Imortais e passou também ao convívio dos homens e mulheres da Terra.

Um dia, estava Afrodite debruçada em uma da inúmeras beiradas de pedra que avançavam pelo precipício abaixo do Olimpo, e de onde os deuses paravam para observar o mundo, quando sua atenção se deteve em seu agora filho Eros, pois sempre que se aproximava de Athena, algo ocorria e o afugentava.

Não suportando mais aquela situação, Afrodite ofendeu-se pelo fato de seu filho Éros nada poder contra a deusa Athena:

— Filho, pois você que venceu os demais deuses, Zeus(Ζεύς),  Poseidon(Ποσειδῶν), Apolo(Ἀπόλλων)  e eu própria, sua mãe, por que você poupa apenas Athena? Contra ela o seu archote não tem fogo, a s sua aljava não tem setas, você não tem arco... Será que não sabe mais disparar uma seta?

— Tenho medo dela, minha mãe. Ela é terrível, os seus olhos são terríveis, o seu aspecto imponente e viril. Todas as vezes em que avanço contra ela para lançar-lhe uma seta, ela me espanta; tremo e as setas me fogem das mãos.

— Ares, por acaso, não é mais terrível? E, no entanto, você o desarmou e venceu.

— Sim, mas ele próprio se oferece aos meus golpes; chama-os. Athena, pelo contrário, sempre me fita com desconfiança. Um dia, quando por acaso voava para ela, segurando o archote, ela ameaçou: “Se você se aproximar de mim, juro por meu pai que o varo com esta lança, pego-o pelo pé e atiro-o ao Tártaro, onde o dilacerarei com as minhas próprias mãos para matar-lo.” São essas as suas ameaças sem fim, e ao mesmo tempo lança sobre mim olhares furiosos; Creio estar vendo um fantasma e fujo assim que a percebo.

Não era nada mais nada menos que o desejo de Athena permanecer casta para todo o sempre.

Eros, o pequeno arqueiro, conhecia o seu próprio poder, até mesmo contra Zeus. Tendo deposto o arco e o archote, Eros tomou um aguilhão de boieiro e suspendeu ao pescoço o alforje de semeador; depois, atrelou ao jugo uma parelha de bois vigorosos e nos sulcos atirou o trigo de Deméter. Olhando, então para o céu, dirigiu um desafio a Zeus:

— Venha e fecunda estes campos, ou então, eu te atrelarei a este arado.

Zeus o temia, pois sabia que Eros era infalível, e jamais poderia ser castigado com a Morte, pois o próprio Destino o protegia. Mas queixava-se, ele, o senhor do Universo. E chamou Eros diante de si, ameaçando acorrentá-lo.

— Sim, se cometi um erro, perdoe-me, Zeus. Sou ainda menino e não atingi a idade da razão.

— Você, Eros, um menino?! Você é a encarnação de Ágape, mais velho que o próprio Japetos. Por não ter barba nem cabelos brancos, por não crescer, se julga ainda menino? Não. É velho e um velho maldoso.

— E que mal fez este velho, como diz, para que pense em prendê-lo?

— Veja, pequenino malandro, se não é grande mal me insultar a ponto de faze-lo superior a mim e fazer com que eu me revestisse da forma de sátiro, touro, cisne e água para atingir seus objetivos. Não fez com que mulher alguma se apaixonasse por mim próprio, e não sei absolutamente que, pelo seu sortilégio, eu tenho conseguido agradar a uma que fosse. Pelo contrário, devo recorrer a metamorfoses e ocultar-me. É verdade que amam o touro ou o cisne, mas se me vissem morreriam de medo.

Zeus não o persuadiria, não abalaria o pequeno deus que existia para causar paixão a cada ser, mortal ou imortal. Era natural que Eros continuasse e haveria de perpetuar. Nada poderia ser feito. O Amor devia continuar livre e solto. Talvez amadurecer... e assim, Eros saiu pelo mundo difundindo o amor.

E  foi em uma pequena cidade encravada ao lado de um imenso rochedo que emergia das águas fundas do oceano, onde Eros encontrou o seu amor. A cidade crescia e prosperava e todos na cidade estavam alvoroçados.

— Aonde vai esta gente toda? — Perguntou o Deus disfarçado.

— Você vem de longe?

— Sim. Estou impressionado com esta massa humana.

— Logo vi. Estão indo todos fazer o que fazem todos os dias: admirar a beleza da filha do rei.

— É. Pelo jeito deve ser muito bonita...

Juntando-se ao cortejo, o curioso forasteiro foi conferir essa beleza tão disputada. Na verdade eram três belezas, pois eram três as filhas do soberano.

As duas primeiras eram inegavelmente belas. Mas quando a terceira apareceu, a beleza das outras duas ficou completamente esmaecida.

Ninguém mais visitava os templos de Afrodite, a mais graciosa das deusas. Ao invés disso, todos dirigiam-se à formosura de uma simples mortal: a princesa Psiqué(Ψυχη).

Psiqué era a mais nova das três filhas do rei, todas elas belíssimas e capazes de despertar tanta admiração que muitos vinham de longe apenas para vê-las. Mas, por mais encantadoras que fossem as duas mais velhas, era possível encontrar na linguagem humana elogios proporcionados ao seu mérito, ao passo que a menor era de perfeição tão rara, tão maravilhosa, que não havia termos que a exprimissem. 

Porém, depois que os pretendentes a contemplavam, ficavam confusos de admiração, e, prosternando-se, a adoravam com religioso respeito, como se tratasse da própria Afrodite. Alguns, de forma exagerada, chegavam mesmo a acreditar tratar-se da própria deusa.

Em breve, espalhou-se a nova de que era a própria Afrodite que vinha habitar a Terra sob a aparência de simples mortal, e o prestígio da verdadeira deusa ficou abalado. Ninguém mais ia a Cnido, ninguém mais ia a Páfos, ninguém mais navegava para a ilha de Cítera. 

Os antigos templos de Afrodite estavam ficando vazios, as cerimônias negligenciadas, os sacrifícios suspensos, e os seus altares solitários só apresentavam uma cinza fria no lugar do fogo onde antes ardiam incensos. 

Mas quando Psiqué passava, o povo, reunido, tomando-a por Afrodite, lhe apresentava grinaldas, atirava-lhe flores, dirigia-lhe votos e preces. De todas as partes do mundo vinham peregrinos oferecer-lhe vítimas.

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