EROS (Ἔρως). Por Reapersun. |
Afrodite(Ἀφροδίτ) retornou ao Olimpo. Os deuses ocupados com tantos novos acontecimentos surgidos depois do dilúvio, já nem se lembravam de sua aventura com Ares(Ἄρης). Aliás, preocupavam-se mesmo era com Ares e Deméter(Δήμητρα).
Com Ares porque o belicoso deus de caráter inconstante, já partira, acompanhado por Fobos(φόβος), Deimos(Δεῖμος), e Éris(Ερις), para a planície de Ílion, onde fomentava duras batalhas. Athena(Ἀθάνα), porém, justa e atenta, sempre segurava o braço potente do formidável guerreiro antes que ele desferisse nos humanos seus golpes fatais.
Deméter, nos períodos em que a filha estava no Hades(Άδης), sempre inspirava cuidados aos deuses, pois sua dor era tanta que poderia destruir o mundo pela fome, em quatro ressecados meses.
Desta maneira, Afrodite se sentiu aliviada e mais disposta a passear pelas florestas do Olimpo. Seu carinho por Eros(Ἔρως) aumentava a cada instante. Para ela, o jovem deus era o filho que sempre sonhara ter.
Seja como for, Eros era o espanto dos homens e dos deuses. Zeus, prevendo os males que ele causaria, até mesmo guerras por ele causadas, quis obrigar Afrodite a desfazer-se dele. Para furtá-lo à cólera do senhor do Olimpo, viu-se Afrodite obrigada a ocultá-lo nos bosques, onde ele sugou o leite de animais ferozes. Mas logo voltou ao convívio dos Imortais e passou também ao convívio dos homens e mulheres da Terra.
Um dia, estava Afrodite debruçada em uma da inúmeras beiradas de pedra que avançavam pelo precipício abaixo do Olimpo, e de onde os deuses paravam para observar o mundo, quando sua atenção se deteve em seu agora filho Eros, pois sempre que se aproximava de Athena, algo ocorria e o afugentava.
Não suportando mais aquela situação, Afrodite ofendeu-se pelo fato de seu filho Éros nada poder contra a deusa Athena:
— Filho, pois você que venceu os demais deuses, Zeus(Ζεύς), Poseidon(Ποσειδῶν), Apolo(Ἀπόλλων) e eu própria, sua mãe, por que você poupa apenas Athena? Contra ela o seu archote não tem fogo, a s sua aljava não tem setas, você não tem arco... Será que não sabe mais disparar uma seta?
— Tenho medo dela, minha mãe. Ela é terrível, os seus olhos são terríveis, o seu aspecto imponente e viril. Todas as vezes em que avanço contra ela para lançar-lhe uma seta, ela me espanta; tremo e as setas me fogem das mãos.
— Ares, por acaso, não é mais terrível? E, no entanto, você o desarmou e venceu.
— Sim, mas ele próprio se oferece aos meus golpes; chama-os. Athena, pelo contrário, sempre me fita com desconfiança. Um dia, quando por acaso voava para ela, segurando o archote, ela ameaçou: “Se você se aproximar de mim, juro por meu pai que o varo com esta lança, pego-o pelo pé e atiro-o ao Tártaro, onde o dilacerarei com as minhas próprias mãos para matar-lo.” São essas as suas ameaças sem fim, e ao mesmo tempo lança sobre mim olhares furiosos; Creio estar vendo um fantasma e fujo assim que a percebo.
Não era nada mais nada menos que o desejo de Athena permanecer casta para todo o sempre.
Eros, o pequeno arqueiro, conhecia o seu próprio poder, até mesmo contra Zeus. Tendo deposto o arco e o archote, Eros tomou um aguilhão de boieiro e suspendeu ao pescoço o alforje de semeador; depois, atrelou ao jugo uma parelha de bois vigorosos e nos sulcos atirou o trigo de Deméter. Olhando, então para o céu, dirigiu um desafio a Zeus:
— Venha e fecunda estes campos, ou então, eu te atrelarei a este arado.
Zeus o temia, pois sabia que Eros era infalível, e jamais poderia ser castigado com a Morte, pois o próprio Destino o protegia. Mas queixava-se, ele, o senhor do Universo. E chamou Eros diante de si, ameaçando acorrentá-lo.
— Sim, se cometi um erro, perdoe-me, Zeus. Sou ainda menino e não atingi a idade da razão.
— Você, Eros, um menino?! Você é a encarnação de Ágape, mais velho que o próprio Japetos. Por não ter barba nem cabelos brancos, por não crescer, se julga ainda menino? Não. É velho e um velho maldoso.
— E que mal fez este velho, como diz, para que pense em prendê-lo?
— Veja, pequenino malandro, se não é grande mal me insultar a ponto de faze-lo superior a mim e fazer com que eu me revestisse da forma de sátiro, touro, cisne e água para atingir seus objetivos. Não fez com que mulher alguma se apaixonasse por mim próprio, e não sei absolutamente que, pelo seu sortilégio, eu tenho conseguido agradar a uma que fosse. Pelo contrário, devo recorrer a metamorfoses e ocultar-me. É verdade que amam o touro ou o cisne, mas se me vissem morreriam de medo.
Zeus não o persuadiria, não abalaria o pequeno deus que existia para causar paixão a cada ser, mortal ou imortal. Era natural que Eros continuasse e haveria de perpetuar. Nada poderia ser feito. O Amor devia continuar livre e solto. Talvez amadurecer... e assim, Eros saiu pelo mundo difundindo o amor.
E foi em uma pequena cidade encravada ao lado de um imenso rochedo que emergia das águas fundas do oceano, onde Eros encontrou o seu amor. A cidade crescia e prosperava e todos na cidade estavam alvoroçados.
— Aonde vai esta gente toda? — Perguntou o Deus disfarçado.
— Você vem de longe?
— Sim. Estou impressionado com esta massa humana.
— Logo vi. Estão indo todos fazer o que fazem todos os dias: admirar a beleza da filha do rei.
— É. Pelo jeito deve ser muito bonita...
Juntando-se ao cortejo, o curioso forasteiro foi conferir essa beleza tão disputada. Na verdade eram três belezas, pois eram três as filhas do soberano.
As duas primeiras eram inegavelmente belas. Mas quando a terceira apareceu, a beleza das outras duas ficou completamente esmaecida.
As duas primeiras eram inegavelmente belas. Mas quando a terceira apareceu, a beleza das outras duas ficou completamente esmaecida.
Ninguém mais visitava os templos de Afrodite, a mais graciosa das deusas. Ao invés disso, todos dirigiam-se à formosura de uma simples mortal: a princesa Psiqué(Ψυχη).
Psiqué era a mais nova das três filhas do rei, todas elas belíssimas e capazes de despertar tanta admiração que muitos vinham de longe apenas para vê-las. Mas, por mais encantadoras que fossem as duas mais velhas, era possível encontrar na linguagem humana elogios proporcionados ao seu mérito, ao passo que a menor era de perfeição tão rara, tão maravilhosa, que não havia termos que a exprimissem.
Porém, depois que os pretendentes a contemplavam, ficavam confusos de admiração, e, prosternando-se, a adoravam com religioso respeito, como se tratasse da própria Afrodite. Alguns, de forma exagerada, chegavam mesmo a acreditar tratar-se da própria deusa.
Em breve, espalhou-se a nova de que era a própria Afrodite que vinha habitar a Terra sob a aparência de simples mortal, e o prestígio da verdadeira deusa ficou abalado. Ninguém mais ia a Cnido, ninguém mais ia a Páfos, ninguém mais navegava para a ilha de Cítera.
Os antigos templos de Afrodite estavam ficando vazios, as cerimônias negligenciadas, os sacrifícios suspensos, e os seus altares solitários só apresentavam uma cinza fria no lugar do fogo onde antes ardiam incensos.
Mas quando Psiqué passava, o povo, reunido, tomando-a por Afrodite, lhe apresentava grinaldas, atirava-lhe flores, dirigia-lhe votos e preces. De todas as partes do mundo vinham peregrinos oferecer-lhe vítimas.
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