Antígona(Ἀντιγόνη). por Aladeusa. |
Assim que Antígona(Αντιγόνη) e seu pai se esconderam atrás dos loureiros, chegaram os anciãos e começaram a falar:
— Procurem-no por todos os lugares do bosque. Ele ainda deve estar por aqui...
— Não há mais ninguém aqui. Ou talvez esteja escondido em algum lugar deste bosque.
— Deve ser algum velho vagabundo. Com certeza é estrangeiro, porque alguém daqui não ousaria pôr os pés no bosque das terríveis virgens, cujo próprio nome tememos pronunciar.
E uma voz se ouviu vindo detrás dos loureiros.
— Aqui estou! Posso ouvi-los, mas não os vejo. Há muito perdi a faculdade de enxergar.
— Oh, Zeus(Ζεύς)! Quem será esse velho de semblante terrível?
— Sou aquele cujo destino ninguém no mundo invejaria. Afinal, de outro modo, eu não iria me arrastar por aí, conduzido por olhos alheios.
— Pobre infeliz! Parece que foi atingido por alguma maldição! Ou seria algum gênio misterioso?
— De fato fui atingido por uma maldição.
— Mas não se embrenhe mais no bosque sagrado! Vem, afaste-se daí.
— Ouça, para o seu próprio bem: se quer ajuda, saia primeiro deste lugar sagrado, onde ninguém ousa penetrar.
Édipos(Οἰδίπους) obedeceu.
— Antígona, conduza-me. Quanto a vocês, senhores, peço compaixão.
— E terás, assim como todo estrangeiro que é inimigo do que é odioso à nossa cidade e respeita o que é caro a ela.
— Posso agora ficar onde estou?
— Vem um pouco mais para frente. Vem, menina, faça-o sentar-se naquela pedra.
Antígona conduziu-o até uma rocha apropriada.
— Vem, pai, mais um pouco. Sente-se aqui, nesta pedra.
— Ah, negro destino o meu! Até quando dependerei dos que se importam?
— Agora, senhor, conte-nos quem é, quem são seus pais, que por certo já não existem mais, e qual a sua pátria.
— Sou um exilado. Quanto ao resto, é melhor não perguntar... Não aguentariam...
— Por quê? Não quer nos dizer?
— Mil vezes desgraçado eu sou! E não sei mais o que dizer.
— Responde ao que perguntamos. Não deve ocultar a verdade, se quiser aqui permanecer.
— Sim... devo falar... Pois bem, já ouviram falar de um certo filho do rei Laios(Λάιος), de Tebas?
Espantaram-se os anciãos.
— O quê?! Da linhagem de Lábdacos(Λάβδακος)?
— Pelos deuses!
— Édipos, aquele desgraçado?
— Que horror! A fama desse homem chegou até nós desde há muito tempo!
Édipos suplicou:
— Peço compaixão, por Zeus, o protetor da hospitalidade.
— Saia desta terra, agora!
— Por favor...
— Vai embora!
— E quanto às promessas que me fizeram?
— O mal se paga com o mal. Não podemos nos apiedar de você, a menos que desejemos que uma praga divina recaia sobre nós!
— Devo ir embora?
— E depressa, para que não sofrer um mal ainda pior caso demore muito.
Assustado, Édipos procurava a mão de Antígona. Ela o ajudou a levantar-se.
— Vamos, filha.
Mas Antígona não saía do lugar. Com o olhar cheio de mágoa, olhou os anciãos e, então, disse:
— Meus bondosos anciãos, vocês são homens compassivos, posso ver em seus olhos. E se escutassem meu velho pai contar os horríveis atos que, sem querer, cometeu, sofreriam juntamente com ele! Mas tenham pena de mim, como se eu fosse sangue do seu sangue. E tenham pena dele por mim, pois vocês são nossa última esperança! E eu imploro por tudo o que há de mais sagrado! Estendam a mão para nós, porque se os deuses quiserem que sejamos destruídos, não teremos salvação, por mais que nos ajudem!
— Filha de Édipos, simpatizamos tanto contigo como com seu pai por causa de todos os seus infortúnios, mas tememos a ira divina e não temos a audácia de ajuda-los.
Então, Édipos disse:
— Queres dizer que não é justa a fama que Athenas tem de proteger todos os estrangeiros? Sim, pois como posso acreditar nisso quando me enxotais da cidade apenas por causa do meu nome e não por causa dos meus atos? Afinal, a pior vítima de tudo o que fiz fui eu mesmo, por ter vivido na ignorância. Por isso, agora ninguém deve temer os deuses mais do que vós, pois eles vêem quem é que os respeita realmente e quem os despreza. Então, não me expulsais. E se o vosso rei vier aqui, ficará sabendo que vim fazer o bem a esta cidade. Basta apenas que vos mostrais bondosos para comigo.
— O que disseste parece sensato, Édipos, mas a decisão será tomada pelos que governam este país.
— E o seu rei, onde está?
— Em seu palácio. E o homem que nos disse para vir até aqui irá buscá-lo.
E, num aceno, o mensageiro correu para Athenas.
— Mas será que irá se incomodar de vir aqui por causa de um velho desgraçado e cego?
— Virá depressa assim que ouvir seu nome.
— Mas o homem que foi levar o recado saberá explicar quem sou? Irá persuadir o senhor desta terra?
— Não se preocupe. Ele virá. Afinal, o seu nome tornou-se célebre tanto pelo mal que causou quanto pelo mal que sofreu! E, seja como for, sua linhagem é famosa e digna de entendimento.
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